Vídeo suspeito contra indígenas e credibilidade em xeque de jornalista

Lideranças indígenas questionam veracidade de informações divulgadas por jornalista de curso de mestrado.

Social Midia, por Marc Anthony Rodrigues*

Publicado em: 25/06/2025 às 07:00 | Atualizado em: 25/06/2025 às 14:46

A recente decisão da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) de retirar do ar o vídeo da dissertação de mestrado da jornalista Paula Litaiff levanta sérios questionamentos sobre a coerência ética e a credibilidade da profissional, que é fundadora e responsável pela revista Cenarium, veículo conhecido por defender a causa indígena em diversas frentes.

A dissertação intitulada “Violência simbólica de gênero no Parque das Tribos”, apresentada em 2025 no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA/Ufam), foi duramente contestada por lideranças indígenas da própria comunidade retratada.

O cacique Ismael Munduruku, apontado no estudo como responsável por práticas abusivas, nega as acusações.

A principal fonte mencionada pela jornalista mestranda, a indígena Maira Mura, também declarou publicamente nunca ter dito o que foi atribuído a ela no trabalho.

Diante das falhas metodológicas e éticas apontadas pela defesa de Ismael Munduruku, incluindo violação da convenção 169 da OIT, distorção de depoimentos, consulta seletiva e ignorância deliberada à pluralidade étnica, a Ufam determinou a retirada do vídeo da dissertação como medida cautelar.

A medida evidencia o grau de comprometimento institucional com os direitos indígenas, mas deixa uma pergunta no ar: se a autora do vídeo foi capaz de supostamente manipular informações em um ambiente acadêmico, o que garante a veracidade das matérias veiculadas na sua revista?

A jornalista, que ao longo dos últimos anos construiu uma imagem pública de defensora das pautas indígenas, tem sua credibilidade abalada diante da contradição entre discurso e prática. A revista que dirige tem como bandeira a denúncia de violações contra os povos originários. No entanto, o caso da dissertação revela que, quando o interesse é próprio, a verdade pode ser relativizada.

Quem vigia a vigilante?

É legítimo que uma jornalista se posicione na defesa de causas sociais. Mas, o que acontece quando essa mesma profissional usa o discurso progressista como escudo para produzir conteúdo parcial ou até fabricado?

O caso, portanto, expõe uma ferida aberta: até que ponto a revista da mestranda publica relatos verdadeiros? Ou será que, como na dissertação, alguns personagens e acusações são convenientemente escolhidos para servir a uma narrativa?

A postura seletiva da futura mestra, que em seu trabalho acadêmico ataca justamente um dos líderes mais atuantes em favor das mulheres indígenas, revela um possível padrão: defender uns, silenciar outros.

A liderança de Ismael Munduruku é amplamente reconhecida por fomentar o protagonismo feminino no Parque das Tribos, com ações concretas como a criação de centros coordenados por mulheres, apoio a projetos de autonomia financeira e articulação para dar visibilidade nacional às pautas das indígenas.

Tudo isso foi ignorado pela autora em sua tese, que preferiu construir uma narrativa controversa e parcial.

A comunidade indígena exige, com razão, um posicionamento claro da universidade e também da sociedade: será que quem se apresenta como porta-voz da causa indígena pode continuar sendo levada a sério após tamanha distorção dos fatos?

E mais: até que ponto o conteúdo da revista sob responsabilidade de Paula Litaiff é, de fato, jornalismo ou apenas uma extensão de interesses pessoais?

A credibilidade, uma vez abalada, exige mais do que boas intenções para ser restaurada. E neste caso, a verdade parece ter sido a maior vítima.

*O autor é jornalista.

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Foto: Secom/reprodução vídeo SEC