Uma gripezinha de nada…

Uma gripezinha de nada...

Mariane Veiga, Por Thomaz Antônio Barbosa

Publicado em: 07/05/2020 às 16:56 | Atualizado em: 07/05/2020 às 17:19

 

“Quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida”[1]

 

Não é por nada, mas se o paraíso pode ser melhorado hoje ele ficou mais terno com a presença de dona Glória. Desde os idos de 1976 quando chegamos à Manaus, ainda descalços, com o cheiro do seringal e as correntezas do Juruá no corpo, a mestra Maria da Glória, oriunda de Parintins-Nhamundá, foi a nossa imagem de referência, da família inteira e de outras tantas que se aventuravam viver o sonho da cidade grande.

Minha homenagem vai para a primeira professora que conheci na vida, dando suas aulinhas a interioranos broncos, pais de famílias aventureiros, no quintal da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, com seu sorriso largo e o olhar acolhedor de mãe daquela gente. Meu pai foi alfabetizado ali. Quem diria, fomos felizes no velho oeste!

As notícias que hoje pairam no ar não são alvissareiras, vivemos a omissão do governo, as consequências da inexperiência misturada à má vontade.

Tem morrido muita gente decorrente desse tempero amargo, sequer sabemos de fato a causa mortis de tantos. Gente honrada tem partido sem direito às honras funerais e às últimas manifestações de amor de seus entes. Paradoxalmente, enquanto nos preocupamos com a dor das famílias, com o sofrimento das vítimas, o mandatário da República pensa em equilibrar as contas da Previdência Social.

Pelo sim ou pelo não a gripezinha de Jair Bolsonaro está deixando o país mais jovem em virtude da morte de nossos velhos, amigos, pais, mães, no mesmo compasso que torna a pátria mais burra, cruel e desumana.

O presidente e seus fanáticos nazistas ou evangélicos gananciosos são incapazes de perceber o tamanho da brutalidade que estão fazendo em nome de um patriotismo canalha que usa a bandeira nacional para esconder seus crimes à nação e a sua gula de poder em face de projetos pessoais sórdidos.

A poesia ficou mais branda na ascensão de dona Glória, a sabedoria, mais pálida, mais plangente.  É o regresso dos bons e nele se inclui o Zé Pereira, fiel companheiro de seu Joaquim, aonde irão fazer serenata no céu para enaltecer de ternura aquela que já leva consigo a glória no nome, a irremediável professora, mentora de todos nós, a quem dobramos os joelhos nessa hora solene. Juntos os três estarão certamente velando pelos que padecem na terra!

…Abraços às famílias enlutadas da Rua Castelo Branco, que a gente possa destruir esse pesadelo. Todavia, não há remédio para a dor da perca de quem amamos.

[1] Maria, Maria – Fernando Brant e Milton Nascimento.

 

*O autor, apresentador do programa “Conversa Franca”, no BNC Amazonas, é contador, formado em ciências contábeis pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), MBA em marketing pela Universidade Gama Filho e mestrando em ciências empresariais na UFP/Porto, em Portugal.

 

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