Parintins recebe Sioduhi, dos maiores estilistas indígenas da história
Sioduhi já vestiu celebridades, como Zaynara e Isabelle Nogueira, com peças feitas a partir da fibra de tucum do alto rio Negro

Juliana Oliveira, da Redação do BNC Amazonas em Parintins
Publicado em: 24/06/2025 às 16:00 | Atualizado em: 24/06/2025 às 19:33
Nesta segunda-feira, 23 de junho, o estilista Sioduhi (29 anos), do povo waíkahna (conhecido também como piratapuya), chegou para a 65ª edição do Festival Folclórico de Parintins.
Sioduhi já vestiu celebridades, como Zaynara e Isabelle Nogueira (cunhã-poranga do boi-bumbá Garantido), com peças feitas a partir da fibra de tucum do alto rio Negro.
Nascido na comunidade Mariwá, às margens do médio rio Uaupés (afluente do rio Negro), Sioduhi acumula uma série de prêmios por sua brilhante trajetória profissional.
Ele foi personalidade do Prêmio Fashion Futures 2023 pelo Instituto C&A, vencedor do concurso Ecoar pela Arezzo&Co, na categoria Processos (2023).
Sioduhi possui MBA em negócios e estética da moda na ECA/USP, MBA em gerenciamento de projetos pela FGV e é graduado em administração pela Uninorte em Manaus.
Uma de suas mais fabulosas invenções é a tecnologia maniocolor: um corante têxtil feito à base da casca de mandioca do rio Negro para tingir tecidos e construir peças únicas.
Mesmo sendo jovem, Sioduhi tem uma série de coleções. A Sioduhi Studio foi a primeira marca do norte do país a integrar a Casa de Criadores, grande evento de moda em São Paulo. A loja física da Sioduhi Studio se localiza à avenida Joaquim Gonzaga Pinheiro, 2.335, no bairro Nossa Senhora das Graças, em Manaus.

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Amazon Poranga Fashion
Neste ano é a segunda vez que Sioduhi comparece ao Festival Folclórico de Parintins e traz algumas de suas peças autorais.
Contudo, desta vez há uma novidade: ele está coordenando o projeto Amazon Poranga Fashion, na Estação de Cultura, localizada na praça da catedral de Nossa Senhora do Carmo, no centro.
A Estação da Cultura, junto com outras estações nessa mesma praça, é apoiada pelo Governo do Amazonas, via Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
Trata-se de um espaço para diversos artesãos e artistas, aberto ao público de 23 a 26 de junho.
Jessilda Furtado, ex-diretora do Teatro Amazonas e idealizadora do Amazon Poranga Fashion, disse que o projeto visa abrir espaço e dar visibilidade para a moda autoral amazonense.
O projeto surgiu três anos atrás, e esta é sua terceira edição no Festival Folclórico de Parintins.
Além do estado, o projeto tem outras parcerias, como Sebrae, Senac, Tapajós Tecidos, por exemplo.
Para além dos desfiles, o projeto envolve troca de experiências, oficinas, cursos, workshop, rodas de conversa sobre arte, cultura e empreendedorismo amazônico.

Escuta e troca de experiências
“Nessa viagem eu vim mais para aprender, observar como cada empreendedor e pessoa trabalhando com moda está tendo facilidades e dificuldades no meio desse processo simplesmente por estar no interior do Amazonas”, disse Sioduhi.
Ele acrescentou que quer entender qual é a perspectiva das pessoas sobre moda.
“Quando eu, na Sioduhi Studio, falo de moda, eu perpasso da roupa, do desfile e da estética. Eu acho que isso tem que ser abordado para as comunidades entenderem que a ferramenta moda/comunicação é tão potente, tanto para afetar negativamente quanto para afetar positivamente a vida das comunidades. É preciso entendermos para onde esses empreendedores vão caminhar, como eles vão demarcar seus espaços dentro e fora de Parintins”.
Na cidade da disputa dos bois Caprichoso e Garantido desde o dia 23 de junho, ele disse que está de olho em tudo.
“Estou aqui para observar as marcas, o movimento artístico, a criação, o que é a essência de uma marca de moda, e o que as pessoas querem comunicar com o mundo”.
Sioduhi ressalta que sua posição como coordenador do projeto Amazon Poranga Fashion é a de escuta em um contexto de grande diversidade cultural e empoderamento político:
“Eu sou uma pessoa indígena, eu tenho uma bagagem de vivência, mas é sempre um aprendizado porque trata-se de outros povos, outras memórias e cosmovisões. Então, o meu lugar é o lugar da escuta da perspectiva que as pessoas têm desse processo. Cada processo é muito individual. Mas, uma das verdades é que precisamos ter limites nesse processo criativo, entender o que é esse mundo dos negócios, o que são nossos valores coletivos enquanto sociedade indígena. Uma pessoa indígena não existe sozinha”.
Até o dia 26 de junho as peças da Sioduhi Studio e de outras marcas autorais amazonenses estarão disponíveis na Estação da Cultura, no centro de Parintins.
O festival folclórico possibilita encontros como esse entre artistas, como o estilista Sioduhi Waíkahna, para a troca de saberes e experiências.
Fotos: Juliana Oliveira/especial para o BNC Amazonas e reprodução/Instagram