Operação retira objetos pessoais da galera na fila do bumbódromo
Operação visou não apenas as galeras azul e vermelha, mas também materiais de vendedores que se instalaram nas calçadas antecipadamente

Juliana Oliveira, da Redação do BNC Amazonas em Parintins
Publicado em: 22/06/2025 às 13:48 | Atualizado em: 22/06/2025 às 13:48
A Secretaria de Segurança Pública do estado (SSP), em operação com a Polícia Militar do Amazonas e o Ministério Público (MP-AM) realizaram na manhã deste domingo, 22 de junho, a remoção de objetos das galeras dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido, que desde o início da semana se posicionam em filas no entorno do bumbódromo em Parintins.
A operação visou não apenas as galeras azul e vermelha, mas também materiais de vendedores que se instalaram nas calçadas antecipadamente.
É a primeira vez na história do festival folclórico que há uma operação conjunta para retirada dos objetos da galera nas filas, de pessoas que tentam garantir com muita antecedência acesso a um lugar gratuito na arquibancada.
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Deliberações do MP-AM
As filas das galeras de Caprichoso e Garantido se iniciaram no dia 17.
Três dias depois, um decreto do MP-AM foi publicado e divulgado com as deliberações, vigentes desde agora:
1) o início de montagem de estruturas de apoio aos brincantes, como as tendas, deve acontecer no dia 25, sem a formação de fila nessa data;
2) o início das filas para acesso ao bumbódromo será a partir das 10h da manhã do dia 27; sem filas antecipadas no local, nem o uso de objetos, como cadeiras, caixotes, e outros, para demarcação de lugares;
3) divulgação dos itens 1 e 2 a partir de 20h;
4) Prefeitura de Parintins, órgãos competentes e Polícia Militar realizarão “fiscalização e a remoção imediata de quaisquer objetos deixados em logradouros públicos sem autorização no entorno do bumbódromo” a partir das 9h da manhã do dia 22, e, nos dias subsequentes, a pessoa que teve seu material confiscado deverá comparecer à Secretaria Municipal de Terras Cadastro e Arrecadação em dias úteis e no prazo até 15 de julho.
Galeras retiram suas barracas
Às 9h deste domingo, conforme anunciado nas deliberações do MP-AM, a operação conjunta, com o promotor de Justiça, Ricardo Borges à frente, iniciou a retirada dos objetos pessoais em torno do bumbódromo.

Os objetos incluíam caixotes e, sobretudo, cadeiras plásticas.
Na noite passada, a galera do Garantido desarmou suas barracas e redes de dormir, permanecendo apenas com cadeiras plásticas.
Conforme os torcedores, eles fizeram isso em “respeito” e “medo” diante do documento do MP-AM que passou a circular na sexta-feira passada.
Na ausência das barracas armadas, os torcedores do Garantido apenas passaram para o outro lado da calçada do bumbódromo em busca de sombra.
Os mesmos grupos que estavam nas barracas continuam em direções equivalentes às suas posições iniciais na fila, mantendo a ordem de “quem chegou primeiro”.
Borges afirmou durante a operação, em conversa com a galera do Garantido, que “objetos já estamos recolhendo hoje, aqui é espaço público, não tem autorização. Por isso, o município, com apoio da Polícia Militar, já está fazendo o recolhimento”.
A galera do Garantido afirmou sua “mágoa” ao promotor por não ter existido uma conversa prévia. Quando souberam da medida, ela já havia sido publicada na sexta-feira e o documento circulava nas redes sociais.
A galera também questionou que, no festival do ano passado, quando entraram no bumbódromo, já havia várias cadeiras cheias de torcidas organizadas dos bois.
O promotor respondia brevemente às questões, enquanto convidava as pessoas ali presentes a “procurarem o MP-AM na segunda-feira (23) para conversar”.
Advertiu, contudo, que não pode haver crianças e adolescentes nas filas, especialmente à noite, pois caso contrário o conselho tutelar será acionado para identificar a situação. A galera do Garantido concordou com o promotor sobre isso.
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Venda de lugares ou amor ao boi?
Parte da polêmica em torno da retirada dos objetos pessoais das galeras dos bois-bumbás do entorno do bumbódromo gira em torno do debate sobre a formação de filas antecipadamente ser feita por amor aos bois ou para a venda ilegal de lugares na arquibancada.
Os lugares na arquibancada, para a galera, são gratuitos até então.
Os próprios torcedores do boi Garantido reconhecem que existem pessoas que vendem lugares na fila para acesso à arquibancada da arena, mas a questão é mais complexa e envolve não apenas a galera (item 19 dos bois-bumbás), mas também a venda oficial de ingressos.
Conforme o parintinense Fábio Souza, de 35 anos:
“A gente acompanha a galera do Garantido há mais de 13 anos. A gente vem para a fila porque a gente não conseguia vaga. Existe a possibilidade de gente segurar vaga para vender, mas também existem pessoas que vêm por amor ao Garantido”.
Conforme Fábio, neste ano, quando anunciaram a venda dos ingressos, duas horas depois não havia mais para comprar.
“Eu acredito que não seja só torcida que entre na arena. Gente que tem dinheiro compra 20 a 50 ingressos para revender por 2 mil reais cada um. Quando chega próximo da data do festival, a pessoa diz que não vai poder vir e propõe a revenda. Encontramos as pessoas divulgando esses ingressos no Facebook. O MP-AM deveria focar nessas pessoas que estão lá em cima no bumbódromo e verificar essa revenda dos ingressos, em vez de ficar mexendo só com a galera que sofre para entrar de graça, por amor ao boi”.
Darlan Gonçalves, de 30 anos, morador do bairro Paulo Corrêa, brinca como item 19 (galera) do boi Garantido desde seus 19 anos, e sente que o boi não dá a atenção merecida para a galera:
“O item 19 [galera] é o mais desrespeitado que existe. Nós não temos direito à água e alimentação. A nota do MP-AM é um absurdo e desrespeito. Estamos aqui pegando sol, chuva, a gente compartilha da mesma refeição. A gente faz amizades todo ano. Isso não pode acontecer.
Eu acho interessante quando os apresentadores do boi dizem ‘torcida inigualável’, ‘torcida linda’, mas na realidade quem vai nos defender? Presidentes e itens oficiais do boi não olham para a gente. Eles têm que olhar com mais cuidado para a galera”.
Insatisfação dos moradores
A presença das galeras no entorno do bumbódromo incomoda os moradores, sobretudo, no lado da galera do Garantido, onde há casas residenciais.
Em conversa com a equipe do BNC Amazonas em Parintins, alguns moradores, que não quiseram ser identificados, disseram se sentir incomodados realmente com a montagem das barracas e redes de dormir das galeras em suas calçadas, que também gera “sujeira”.
Alex Ramon, torcedor do Garantido, diz que a denúncia é feita por pessoas de fora que vêm para o festival e alugam casas perto do bumbódromo:
“Quem está denunciando não são as pessoas daqui, são as pessoas de fora que alugam casas e estão se incomodando com quem faz fila. Muitas vezes já montamos barraca aqui só com ferro e lona. Neste ano estávamos mais organizados. Nosso grupo tem mais de 50 pessoas, se organiza com um ano de antecedência para o festival, nos revezamos por amor ao boi, sem lucro nenhum. A única coisa que o boi nos dá é água na fila. Lá dentro uma garrafa de 20 ml é 20 reais. Um sanduíche é 20 reais. Se estamos aqui passando sol, chuva é por amor ao boi”.
Alex está entre o grupo que chegou primeiro ao local das filas no dia 17, com Anica de Menezes e Eduarda Xavier, já entrevistadas pela equipe BNC Amazonas em Parintins.
As galeras ficam
A galera do Garantido acredita ainda que no dia 27 vai ser caótico, pois apesar de não poderem mais ter cadeiras, nem armar barracas e redes de dormir, as pessoas não vão embora dos arredores do bumbódromo.
“Eu acredito que vai ter uma bagunça maior ainda se retirarem a gente, pois vamos nos aglomerar em esquinas, e no dia que abrir o portão todo mundo vai correr para a fila. Eu acredito que eles deveriam pensar para o próximo ano uma possibilidade melhor, avisar com antecedência, não dias antes do festival”.
Com a operação feita neste domingo, as pessoas podem permanecer no espaço público, segundo o promotor Borges, mas sem cadeiras ou outros objetos que demarquem lugares.
A imprensa acompanhou toda a operação.
Foto: Juliana Oliveira/especial para o BNC Amazonas