Homenagem a Luiz Gonzaga demarca outro fundador do Caprichoso

Nas memórias de parte significativa da comunidade parintinense, o fundador do boi Caprichoso teria sido seu Luiz Gonzaga, entre 1918 e 1924

Dassuem Nogueira, da Redação do BNC Amazonas em Parintins

Publicado em: 21/06/2025 às 17:54 | Atualizado em: 21/06/2025 às 18:57

Parintins é explicada pela mídia como uma cidade dividida em duas metades, uma azul e outra vermelha.

Embora não exista uma rigidez nessa divisão, o que se faz para uma metade, tem que ser feita para a outra.

Em 2023, na gestão de Frank Bi García, a Prefeitura de Parintins inaugurou o mercado municipal Lindolfo Monteverde, localizado na baixa da Xanda.

O mercado anterior era um prédio pequeno que servia à comunidade. O antigo mercado e as casas e comércios no seu entorno foram desapropriados e lá foi construído o mercado em homenagem ao fundador do boi Garantido.

Desse modo, faltava um mercado em homenagem ao fundador do boi Caprichoso.

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Disputa de narrativas

Porém, há uma disputa de narrativas em relação à origem do boi Caprichoso.

Nas memórias de parte significativa da comunidade parintinense, o fundador do boi Caprichoso teria sido seu Luiz Gonzaga, entre 1918 e 1924.

Uma das versões sobre a fundação do boi preto de Parintins por Luiz Gonzaga está relatada em versos por Raimundinho Dutra, compositor falecido neste ano, no livro “A revelação histórica do folclore parintinense (2005)”.

Contudo, em meio aos preparativos para as comemorações do, igualmente questionado, centenário do boi Garantido, em 2013, o boi-bumbá Caprichoso assumiu uma versão oficial que reconhece como fundadores os irmãos Roque e Pedro Cid.

Tal versão permite que o boi Caprichoso assuma como data de fundação o ano de 1913, igualando-se em idade ao seu oponente.

Não está evidente qual vantagem prática existiria em ser ou não o mais antigo.

Aparentemente, naquele momento, pareceu desvantajoso para a agremiação disputar o festival sem o apelo à comemoração de um centenário.

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As entrelinhas

Fato é que a Prefeitura de Parintins, o poder local do estado, ao dar nome ao mercado municipal da metade azul da ilha em homenagem a Luiz Gonzaga, não assume a versão oficial do boi Caprichoso sobre sua fundação.

Já que o mais lógico seria que o nome do mercado oposto ao de Lindolfo Monteverde fosse dado em homenagem aos irmãos Cid.

Na solenidade de inauguração, as falas das autoridades presentes foram na direção de exaltar a importância de Luiz Gonzaga como um dos padrinhos do boi Caprichoso. Nenhuma das falas o mencionou como possível fundador, evitando a saia justa.

Membros da família Gonzaga estiveram presentes. Patrick Gonzaga, um dos netos, fez uma fala em que agradece “a sensibilidade e respeito à memória do povo”, ressaltando que agora o nome de seu avô estará gravado nessa simbólica homenagem e sua memória seguirá viva.

A sua fala nos lembra que, apenas recentemente, o boi Caprichoso voltou a mencionar seu avô como pessoa importante nas toadas e apresentações.

E que a versão oficial terminou afastando Gonzagas e Pereiras do boi.

Luiz Pereira foi outro importante padrinho, em sua fase mais popular, nas décadas de 80 e 90, quando atraía centenas de brincantes à rua Cordovil.

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Amigos

Está na memória dos antigos da cidade que os fundadores de Garantido e Caprichoso eram um grupo de amigos pescadores na pequena Parintins do início do século passado.

Na toada “Os pescadores”, de Chico da Silva, sobrinho de criação de Luiz Gonzaga, há um belo registro:

“O rio manso a murmurar
Numa rima do sol e luar
Lá vem Santarém, Porrotó
Luiz Gonzaga, Pamim, Zé Caiá”.

Luiz Gonzaga dá nome ao mercado e Pamim e Zé Caiá dão nome a quiosques na parte interna.

Assim como os nomes de Bibi Teixeira, Pedro Buretama e Manoel Sininbu, pessoas importantes para Parintins e, claro, para os bois.

O prédio que serve ao mercado foi construído para servir como galpão de beneficiamento de juta, localizado ao lado do Colégio do Carmo, na rua Rio Branco, onde morou e ainda mora a família Gonzaga.

Fotos: Juliana Oliveira/ especial para o BNC Amazonas