Grandiosidade e ousadia marcam a 1ª noite do Caprichoso

Neuto Segundo
Publicado em: 30/06/2018 às 03:37 | Atualizado em: 30/06/2018 às 03:51
O melhor do Brasil é o Brasileiro! foi com a afirmação proferida por Câmara Cascudo que o boi-bumbá Caprichoso abriu o 53º Festival Folclórico de Parintins, com a temática da noite “Ancestralidade, o Ethos do Saber Popular”.
O Touro Negro adentrou na arena impactante. A gigantesca Árvore Ancestral que trouxe em sua copa, o astro da festa, Boi Caprichoso. No tronco mais abaixo, o levantador de toadas, David Assayag.
Em seguida, a exaltação folclórica “Terra, Mãe Ancestral”, também chamou atenção pelo imponente altar representando toadas as mães do mundo. Ainda na segunda parte, a alegoria se abre e dela surgiu os animais e a Cunhã Poranga, Marciele Albuquerque, sendo que esta, entre as conoris.
Também na mesma alegoria saíram o Amo do Boi, Sinhazinha e Vaqueirada, momento em que a cantora paraense, Rainha do Carimbó, Dona Onete, participou da encenação com o apresentador Edmundo Oram, tocando tambor.
Após a exibição impecável dos tuxauas e tribos, foi a vez do Ritual de Iniciação Tariana, do artista Júnior de Souza e equipe, entrar em cena. Conta a história que Uauri, primeiro Tariano a receber ensinamentos de cerimônias ritualísticas, teve seu corpo transformado em pó e do pó, nasceram todos os insetos, répteis e peçonhas que a Amazônia conhece e dos seus ossos nasceram as flautas sagradas.
Assim, os Tarianas legaram a sabedoria ancestral amazônica, estas tradições que perduram até os dias de hoje na memória dos povos tradicionais do Alto Rio Negro.
Da colossal alegoria emanou o Pajé, que evoluiu na toada Nirvana Xamânico. A figura típica “Caboclo Curador”, mostrou a influência da sociodiversidade amazônica nos saberes ancestrais dos sábios pajés, dos antigos griôs libertos e das crenças cristãs, o amálgama maternal da sincrética sabedoria ancestral.
A alegoria apresentou um misto de mistérios e dons sobrenaturais que transcendem os limites da ciência e da razão. O profundo conhecimento do poder milagroso das muitas ervas medicinais, a cura das doenças do corpo e da alma, a íntima ligação entre os mistérios do mundo terreno e o mundo metafísico, são dons natos do caboclo curador.
Durante a evolução da figura típica, a porta-estandarte Marcela Marialva, surpreendeu os torcedores ao receber o estandarte de um personagens sobre um drone. A nação azul e branca foi ao delírio.
A última alegoria a adentrar a arena foi a lenda amazônica “Yurupari, o Terror das Noites”, do artista Ferdinando Carivardo e equipe. A história conta que os catequistas cristãos, ao chegarem ao Alto Rio Negro no auge do período colonial, encontraram povos indígenas, que tinham Yurupari, como um ente divinizado, que havia imposto o patriarcado, como forma de governança das aldeias e legislado uma série de leis e advertências que criavam em torno do grande tuxaua, uma aura divinal gloriosa.
Toda essa reputação de respeito e poder, era um obstáculo para o florescimento da ideologia cristã. Da alegoria surgiu a rainha do folclore, Brenna Dianá. Já estava encaminhando para o final do espetáculo, quando um homem voador surgiu durante o auto do boi, que novamente teve a participação de Dona Onete, a torcida que foi um show a parte, novamente, foi ao delírio. O cronômetro marcava 2h28 quando o Caprichoso deixou a arena.