Garantido paga promessa a São João
Boi vermelho cumpre tradição centenária com ladainha, cortejo e fogueiras pelas ruas de Parintins no dia 24 de junho.

Dassuem Nogueira, da Redação do BNC Amazonas em Parintins
Publicado em: 25/06/2025 às 15:28 | Atualizado em: 25/06/2025 às 15:30
Na noite de ontem, 24 de junho, o boi-bumbá Garantido realizou o conjunto de tradições que envolve o pagamento da promessa feita por seu fundador Lindolfo Monteverde a São João Batista.
A noite abre com a ladainha, um conjunto de rezas e cantos, realizada pela família Monteverde no terreiro da casa do mestre Lindolfo, hoje conhecido como “curralzinho” da baixa de São José.
Em seguida, o boi Garantido segue arrastando uma multidão pela rua que tem o nome do seu fundador, seguido de batucada e trio com cantores.
A placa da rua que leva o nome do fundador do boi vermelho e branco, contraditoriamente, está nas cores azul e branca.
👵🏽 Tia Maria
O ritual se iniciou com as rezas conduzidas por Maria Monteverde, a quem todos da comunidade da baixa chamam de tia Maria.
Ela é a única filha mulher viva do mestre Lindolfo. João Batista Monteverde, a quem o pai preparou para que assumisse o posto de amo em seu lugar, também está vivo. Mas, não participa mais desses rituais em função da idade avançada.
A salvaguarda da tradição da ladainha e de colocar o Garantido para dançar de fogueira em fogueira no dia de São João é feita há cerca de um século pela família Monteverde.
Recentemente, com processos de valorização dessa tradição por parte da agremiação, os torcedores do Garantido passaram a chamar Maria Monteverde de tia, desse modo, estabelecendo parentesco a quem se sente parte da família Garantido.


🎶 A ladainha
A ladainha é conduzida por tia Maria, que “puxa” os cantos, acompanhada por outros que tem a função de apoiar a voz da senhora de idade avançada.
Neste ano, tia Maria e os que puxavam a ladainha, se colocaram na entrada da capela erguida para São João Batista. Lá foi posto um altar com a imagem do santo e o boi Garantido ao lado.
O momento alto da ladainha é o seu repertório em latim e o acender da fogueira no meio do terreiro, com fogos de artifício.
Tia Maria encerrou a ladainha pedindo a São João a vitória do boi Garantido.
📸 Quilombo da baixa
Neste ano, além dos ritos tradicionais da ladainha, houve um momento de solenidade para o lançamento do curta documentário “Símbolos do quilombo da baixa”, realizado por iniciativa de Cleumara Monteverde, neta do fundador.
Foi colocado um telão no palco do curralzinho para a exibição do vídeo. O público sentado nas cadeiras de plástico que estavam postas na direção da capela durante a reza, as direcionaram para o telão.
O documentário contém falas de moradores antigos que reforçam a presença de pessoas negras da comunidade e memórias das tradições do boi Garantido, como os versos do auto do boi tradicional parintinense.
Enquanto falavam as autoridades convidadas, a secretária de cultura do município Rozenilce César e o presidente Fred Góes, foi distribuído o tradicional mingau de munguzá das festas de terreiro do Garantido e pipoca para o filme.


🔥 De fogueira em fogueira
A promessa é que o boi saia dançando de fogueira em fogueira. Por isso, desde a tarde, os moradores por onde passa o cortejo deixam seus montes de madeira prontos para acender quando o boi estiver próximo de passar.
O caminho é a rua Lindolfo Monteverde, antiga Vicente Reis, avenida Armando Prado e avenida Clarindo Chaves, via lateral à catedral de Nossa Senhora do Carmo, onde finda.
O cortejo se inicia por volta das 21h e termina entre 4h e 5 da manhã. Os 1,5 quilômetros de cortejo são administrados pelo povo que tenta se concentrar próximo à batucada e ao trio.
O homem que canta ao microfone tem que pedir inúmeras vezes para que a multidão deixe o cortejo andar. Está claro que o povo não quer que a festa termine.
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Fotos: Dassuem Nogueira/especial para o BNC Amazonas