Garantido deixa pistas no último ensaio técnico
Nota destoante é o boi-bumbá, na voz de seu amo do boi, se sentir à vontade para rir da homofobia

Dassuem Nogueira e Juliana Oliveira, da Redação do BNC Amazonas em Parintins
Publicado em: 21/06/2025 às 11:40 | Atualizado em: 21/06/2025 às 11:42
O ensaio técnico realizado na noite deste dia 20 de junho se iniciou com a solenidade de hasteamento da bandeira feita pelo artista Agostinho, falecido recentemente.
No último ensaio na Cidade Garantido, em Parintins, a agremiação deixou pistas do tom que deverá desenvolver na arena do bumbódromo nos dias 27, 28 e 29.
O ensaio técnico seguiu econômico na apresentação das peças do grande espetáculo. Porém, sabe-se que o tema “Garantido, boi do povo, boi do povão” vem para brincar de boi.
Aparentemente, a toada “Garantido, o boi do Brasil” deverá ser o tema, ou pelo menos, o fio condutor da noite ensaiada.
Sendo assim, o boi da baixa apostará suas fichas no que sabe fazer de melhor: falar sobre si mesmo.
A agremiação tem dedicado cerca de um terço do tempo de espetáculo para fazer a celebração folclórica e manter o clima festivo dentro da arena.
O público presente fez uma grande festa com o repertório apresentado.
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Novidades no musical
Nota-se ainda a não participação de Márcia Siqueira. A voz feminina nos solos femininos foi de Alessandra Moreno, “um talento da baixa”, disse Israel Paulain, o apresentador.
A banda fará mais trilhas para criar o clima das cênicas.
Coreografia
Com o contingente de grupos de dança que chegou apenas no dia de ontem, notou-se um movimento maior de coreografias.
Outro ponto que merece destaque é que algumas delas saem do padrão convencional de coreografias, comumente apresentadas até então no festival, em especial, nos movimentos de braços.
O pajé Adriano Paketá segue sagrando-se um dos melhores performers do festival, combinando técnica de dança e interpretação, provocando catarse no público.
Lívia Cristina, a rainha do folclore, segue sendo o item feminino mais sofisticado em termos de performance do boi Garantido, além de possuir imenso carisma.
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“Maluzinha”
Infelizmente, algumas coisas não soaram bem. O amo do boi João Paulo Farias, em suas rimas, vem chamando o boi contrário de “Maluzinha” em referência à toada “Málúù Dúdú” do boi-bumbá Caprichoso.
Em iorubá, o termo significa “boi preto”. Então, Maluzinha seria uma feminização diminutiva do termo em outra língua, o que soa como tom homofóbico, proibido pelo regulamento do festival folclórico.
É provável que essa não tenha sido a intenção do amo do boi e que esse tipo de rima — que extrapola o âmbito do desafio, próprio do amo do boi –, não vá para a arena.
Mas, é preocupante que o boi-bumbá, na voz de seu amo do boi, se sinta à vontade para rir da homofobia.
O tom não combina com o movimento bonito que os bois de Parintins vêm fazendo de repensar sua gramática, por exemplo, deixando de lado o termo “tribo” para falar em “povos originários”.
Foto: Juliana Oliveira/especial para o BNC Amazonas