As mulheres do barracão do Garantido
Entre os kaçauerés que organizam os módulos alegóricos na área de concentração, destacam-se as mulheres que trabalham nos barracões

Dassuem Nogueira, da Redação do BNC Amazonas em Parintins
Publicado em: 18/06/2025 às 08:01 | Atualizado em: 18/06/2025 às 11:30
O boi-bumbá Garantido foi o primeiro a iniciar o traslado de suas alegorias na área de concentração do bumbódromo, na manhã do dia 10 de junho.
Desde então é possível observar no comando da operação duas mulheres, as engenheiras civis Naiara Silva e Érica Miranda, e a técnica de segurança do trabalho Rayane Reis. Além delas, há um engenheiro eletricista e um engenheiro mecânico.
Entre os kaçauerés que organizam os módulos alegóricos na área de concentração, destacam-se as mulheres que trabalham nos barracões, equipadas com uniforme, capacetes e equipamento de proteção.

Durante muito tempo, o trabalho de alegorias no barracão era um território exclusivamente masculino. Era comum que as esposas dos artistas trabalhassem, mas, seu trabalho era interpretado como de ajudantes de seus maridos.
Contudo, essa realidade vem se transformando. Hoje, no Garantido, há cada vez mais mulheres adentrando nesse território em diversas funções, como soldadora e artista de ponta.
O BNC Amazonas conversou com as engenheiras e as aderecistas que atuavam no traslado no dia 17 de junho.
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As engenheiras
Naiara Silva, engenheira civil, contou que, há dois anos, há uma equipe de engenharia responsável pelo planejamento mecânico e elétrico de todos os módulos alegóricos que chegam até a concentração.
“Nosso trabalho é de suma importância, já que a gente traz todos esses módulos na via pública a quase dois quilômetros do nosso curral, da nossa cidade Garantido. Então, a gente fica responsável por manter esses módulos estruturados até a concentração”.
No barracão, o trabalho das engenheiras e equipe é planejar e acompanhar todas as etapas da execução dos módulos desde as estruturas metálicas até o revestimento.
Naiara disse que têm uma relação amistosa com os kaçauerés no comando do traslado das alegorias:
“A gente tem um ótimo convívio, é um relacionamento de amizade dentro e fora dos galpões, com muito respeito. A gente acolhe eles de uma forte muito diferente, como amigos mesmo, é muito mais que trabalho, já que são eles que trazem o boi para a concentração e fazem muito esforço para trazer o boi até aqui”.

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As aderecistas
Graciene Costa, 30 anos, e Isabel Oliveira, 34, são aderecistas de um e dois festivais de experiência no Garantido, respectivamente.
Elas contaram que o trabalho de adereçamento dos módulos no barracão dura um mês e meio, “A gente pastela, cola tudinho, bota adereço, corta tecido, cola tecido, é bem puxado. No período antes do festival, tu vai cedo pra casa, mas quando fica próximo só sai 20h, 20:30. Tem gente que fica até mais tarde pra adiantar bem o serviço”.
Na área de concentração, elas finalizam o trabalho iniciado nos galpões.
Sobre trabalhar em um universo masculino, Isabel afirma que “a convivência dentro do barracão é boa, né? Tem muitas brincadeiras, tem que saber brincar, né? Mas, é bem divertido”.
Nota-se que a vida dessas artistas é atravessada pelo trabalho no barracão.
Entre elas, há as que têm marido e filhos e uma delas está solteira. Seus maridos e ex-maridos também são trabalhadores do barracão.
Como há muitas mulheres que trabalham fora de casa, a que tem filhos pequenos conta com o auxílio da mãe no cuidado cotidiano com a criança.
Para Isabel, “é bom trabalhar no festival, melhor ainda quando a gente vê nosso trabalho na arena”.
As aderecistas fazem parte da equipe do artista Mingo, que assina a alegoria de celebração folclórica que poderá ser vista na terceira noite.
Fique sabendo:
- – Kaçauerés é como são chamados os empurradores de alegorias do boi Garantido, que são especializados em duas etapas do processo: levar até a concentração e organizá-los na concentração e na arena, de acordo com a ordem de apresentação.

- – Barracão ou galpão é o nome dos espaços amplos e altos, sem divisórias internas, onde são confeccionadas as alegorias.
Fotos: Juliana Oliveira/especial para o BNC Amazonas