O sonho e o choro de Shakira

Shakira cantou para mim. Só para mim. Foi dentro de um navio, em embarque para Parintins, para o Carnaval 2025.

Shakira do Amazonas

Neuton Correa, por Neuton Corrêa

Publicado em: 27/02/2025 às 16:03 | Atualizado em: 27/02/2025 às 16:22

Jamais imaginei que um dia poderia ter um show de uma estrela da música pop global só pra mim. Sem exagero, digo logo, para que não fiquem ansiosos pela revelação que tenho a lhes fazer.

Então, concluindo esse raciocínio: Shakira cantou para mim. Só para mim. Foi dentro de um navio, em embarque para Parintins, ao Carnaval 2025. Repito: foi num embarque, o segundo de três embarques que fiz para uma viagem de uma hora ou 12 horas.

Sobre a Shakira, melhor ainda: tive o prazer de pedir a segunda música, dizendo-lhe, em avaliação, que essa segunda interpretação fora melhor do que primeira.

Nesse dia, Shakira estava encantadora. Sorria, apesar de ter chorado. Seus cabelos avolumavam-se, sem contudo se desalinhar, apesar do vento e de sua performance.

Ela seduzia! Impossível não sentir sua sedução. Sua calça de couro e seu colam justos à pele desenhavam as dimensões perfeitas de seu corpo, que tentava se esconder com short e um coletezinho, sobrepostos.

Privilégio

Vocês não imaginam o privilégio que tive em ver esse show! E foi ela que veio a mim:

– Vai um (uma caixinha de Mentos) ? Quatro reais.

Vasculhei meus bolsos e minha maleta e respondi:

– Poxa, desculpa! Não tenho. Mas faça o seguinte: me dê o número do seu pix.

– Eu não tenho. Pronto! Faço dois por R$ 5.

Foi nesse instante que descobri que a produção de sua apresentação não tinha nada a ver com aquele tabuleiro de Mentos que carregava em suas mãos.

– A senhora não perde venda. É uma boa vendedora. Qual o seu nome?

– Shakira!

Ela falou assim, com um orgulho transbordante, que fiquei sem ação, o que lhe permitiu seguir no nome e sobrenome:

– Shakira do Amazonas.

– Por que Shakira?

– Porque eu sou a Shakira! E por que eu também canto.

E não contou conversa. Pegou uma caixinha de Mentos e dela fez um microfone para interpretar as músicas. Cantou a primeira, que não entendi, mas logo em seguida puxou “Whenever, Wherever”, da Shakira da Colômbia.

Aplaudi, ao fim, e ela perguntou:

– Você gostou?

– Tanto que vou deixar esse regalo em sua caixinha.

Bastou isso para ela cair no choro. E, do barco onde estávamos, apontar para o outro lado do rio Negro e dizer:

– Eu vim dali. Eu tinha uma conta pra pagar que estava me perturbando. Hoje sonhei que encontraria uma pessoa que me ajudaria.

E me agradeceu chorando, enxugando suas lágrimas com uma toalhinha que estava sobre seus bombons.

Ah sim! Ia esquecendo de falar da minha viagem. Seria de avião, as 8h, mas o voo foi cancelado; Eu, a Darci e meu sobrinho Luan, então, corremos pro Porto – já estávamos no navio, quando um amigo nos ofereceu umas passagens em seu avião.

E, assim, viajei.

Ilustração: Gilmal