As atentadas de 11 de setembro
Aguinaldo Rodrigues
Publicado em: 16/09/2009 às 00:00 | Atualizado em: 16/09/2009 às 00:00
Neuton Corrêa*
A velinha queria porque queria sentar no mesmo lugar onde se acomodava uma jovem passageira. A velha havia acabado de entrar no 611 (Japiim-Centro). Embarcou apoiando-se em uma sombrinha. Resmungou para o motorista assim que pisou na porta e, ao dobrar a cabeça, gritou com a moça. Ela reagiu! A confusão começou.
O bate boca parecia confirmar que aquele dia era mesmo o dia da intolerância. Eu havia acabado de assistir ao plantão de notícias da TV. De improviso, o jornalista Carlos Nascimento anunciava: “Um acidente aéreo em Nova York! Um avião chocou-se contra uma das torres gêmeas do World Trade Center”.
Na mesma hora, acesso um site de busca e escrevo: “World Trade Center”. Enquanto o computador buscava a informação, ouço o apresentador dizer: “Você está vendo novamente as imagens do acidente aéreo”. O jornalista acaba de falar e se assusta: “É outro avião!”. A procura na Internet concluiu: “World Trade Center é um complexo de sete prédios construídos na Baixa Manhattan, localizado no coração do centro financeiro da cidade de Nova York”.
Horas depois, o jornalista traz nova informação: “Mais um avião atinge outro prédio”. E logo em seguida: “Estamos recebendo informação de que outra aeronave foi abatida. Ela iria em direção ao Congresso Americano”. A TV mobiliza correspondentes no mundo inteiro. Todos parecem assustados.
Confesso, também fiquei apreensivo. Tanto que as notícias chegavam em minha cabeça como tintas de Picasso. Calma, senhores! Eu explico: Picasso pintou um quadro chamado Guernica, em que expressa os horrores dos ataques à cidade espanhola de Guernica que marcaram o início da Segunda Guerra Mundial.
Lembrei do quadro do famoso pintor porque tinha a convicção de que naquele dia deveria guardar alguma imagem importante para nunca mais esquecê-la. Hoje, oito anos depois, tento recordar a data, mas a imagem da passageira brigando com a outra insiste em me perseguir.
Pelos valores que sempre professei, de acreditar que a diferença de idade impõe respeito entre as pessoas, achei que a confusão seria logo resolvida. Afinal, a mulher tinha idade de ser tataravó da outra. Além disso, éramos apenas três passageiros a bordo: eu, que havia acabado de sair da Seduc; a moça, a segunda a entrar na viagem; e a velha, a terceira passageira.
Porém, amados do busão, a jovem bateu o pé:
– Eu não vou sair daqui, senhora. O ônibus está vazio!
A idosa não se intimidou e ameaçou:
– Então, eu vou te dar uma porrada.
A moça duvidou e virou o olhar para a janela, quando a velhinha levantou o guarda-chuva e disparou uma seqüência de cassetadas, dizendo:
– Esse lugar é pra velho! Esse lugar é pra velho! Esse lugar é pra velho!
Naquele ato, vi que o mundo, realmente, no dia 11 de setembro de 2001, amanheceu intolerante.
*Filósofo, mestrando do Programa Sociedade e Cultura na Amazônia/Ufam.