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Pierre-louis Choquet

Kiwxí, a Amazônia ferida

Vicente Cañas (1939-1987), um irmão jesuíta espanhol, morreu há 35 anos, morto por proprietários de terras nas margens do rio Juruena, no noroeste de Mato Grosso. Tinha defendido o povo Enawenê-Nawê, cuja vida tinha vindo a partilhar após vários anos de envolvimento no trabalho missionário indígena. Embora Cañas tenha deixado poucos escritos, a sua própria vida parece delinear uma proposta teológica, ainda à espera de ser explicitada.

A Amazônia encontra-se numa encruzilhada. Mais de três anos após o encerramento do Sínodo que reuniu várias centenas de bispos, religiosos e leigos da região, as comunidades cristãs enfrentam uma situação sociopolítica e ambiental em rápida deterioração, e estão lutando para fazer ouvir uma voz profética. Nas regiões fronteiriças do Brasil, o apoio incondicional do presidente Jair Bolsonaro à indústria do agronegócio resultou um crescimento econômico espetacular, o que lhe valeu uma popularidade sem precedentes – inclusive entre os católicos. Embora a desigualdade continue a crescer e o desmatamento esteja aumentando, as lutas pela reforma agrária e pela defesa dos povos indígenas estão se enfraquecendo a ponto de desaparecerem do horizonte de possibilidades.