Justiça como tecido social: entre o eu, o outro e os desafios da contemporaneidade
A concepção de justiça, que outrora orbitava em torno do indivíduo e de suas prerrogativas legais, ganhou contornos coletivos no século XX, transformando-se em um imperativo social. Não por acaso: desde Aristóteles, que definia o humano como “animal político”, a filosofia insiste — nossa essência é relacional. Não sobrevivemos isolados, mas em redes de interdependência. Nesse sentido, a justiça só se realiza quando transcende o eu e abraça o outro, como lembra Emmanuel Levinas: “o rosto do outro que me interpela”. Sem alteridade, a justiça é mera ficção legalista.
O século XX, marcado por guerras e lutas por direitos, tentou institucionalizar essa noção. Declarações universais e constituições passaram a prever saúde, educação e moradia não como favores, mas como direitos. Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido, reforçava: “Ninguém liberta ninguém, os homens se libertam em comunhão”. Justiça social, portanto, não é caridade, mas reconhecimento de que nossa humanidade é coautora.