ZFM: empresas projetam gasto de R$ 1,3 bi com ‘taxa da seca’ e insumos

Augusto Rocha, do Cieam, critica governo por não investir na infraestrutura do Amazonas.

Ednilson Maciel, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 25/11/2024 às 05:59 | Atualizado em: 25/11/2024 às 09:22

As empresas da Zona Franca de Manaus (ZFM) projetam gastos de R$ 1,346 bilhão em 2024 para contornar a seca mais severa da história.

Nesse sentido, o valor considera R$ 846 milhões de adiantamento de estoque e mais R$ 500 milhões da chamada “taxa da seca”, que aumenta o preço da logística de cabotagem.

Segundo o Poder360, o levantamento é de Augusto César Barreto Rocha, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e coordenador da comissão de logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam).

Para Rocha, a falta de infraestrutura e de investimentos na área para a região encarece a operação das indústrias.

Por exemplo, por não oferecer diferentes alternativas logísticas para a chegada de insumos e o escoamento da produção.

Dessa maniera, ele critica a falta de investimento na infraestrutura.

“Não há investimento para a correção desse deficit de infraestrutura. Então, vale dizer, portanto, que é equivocado o debate entre infraestrutura e meio ambiente. Não é esse o debate, é como se houvesse um antagonismo entre eles. Ou faz infraestrutura ou protege o meio ambiente”, afirmou Rocha.

Assim, conforme o professor, o governo utiliza a proteção ambiental como justificativa para não fazer nada pela região amazônica do ponto de vista da infraestrutura.

“O que nós necessitamos, de fato, é fazer duas coisas: fazer infraestrutura e proteger o meio ambiente, com respeito ao meio ambiente, porque a ausência de infraestrutura faz com que não exista governança nenhuma. A floresta vai sendo destruída com zero de governança. Ou seja, não há nem infraestrutura, nem proteção da floresta, nem nada”, declarou Rocha.

De acordo com a publicação, uma das principais críticas de empresários que atuam na ZFM é a falta de diálogo com o Ministério do Meio Ambiente, comandado por Marina Silva.

A ideia é que ela e sua equipe não estariam abertos a pensar em um desenvolvimento da região de forma sustentável. A ministra justifica que grandes obras na Amazônia piorariam o cenário de desmatamento da floresta.

“O ato de não fazer nada não nos transforma em responsáveis ambientalmente”, disse o professor.

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Custo da seca

Além disso, o principal modal logístico do polo industrial de Manaus é a cabotagem, que usa contêineres em navios para trazer os insumos para as empresas.

Assim como para transportar os produtos acabados para o resto do Brasil.

Com isso, entretanto, é preciso que os rios mantenham navegabilidade durante o período de seca. Na Amazônia, o ciclo natural dos rios é de passar metade do ano em cheia e outra metade na seca.

Dessa forma, com a seca, os navios não conseguem se aproximar de Manaus para carregar e descarregar, e, por isso, precisam passar por portos privados flutuantes, onde há o transbordo da carga e a aproximação da cidade.

Como resultado, como não há alternativa viável para as empresas, os preços deste serviço disparam em 2024, chegando a US$ 4.000 ou US$ 5.000 por contêiner.

Segundo os empresários, apesar de haver outros modais logísticos, estes não atendem à demanda de carga e de tempo.

Dentre as alternativas está a aérea, que transporta a menor parte dos produtos produzidos na Zona Franca, e a rodoviária.

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Caminho por terra

O caminho por terra é o mais criticado pelo setor. Ou as cargas precisam ser colocadas em carretas que pegam balsas para irem até o Pará, onde acessam rodovias do resto do país, ou dependem da BR-319, que não tem asfalto em parte.

Desse modo, a única rodovia que conecta Manaus a outras regiões do Brasil, a BR-319, que vai até Porto Velho (RO), espera asfalto há 52 anos.

Sendo assim, disputas judiciais e ambientais, entretanto, devem postergar uma solução definitiva para a “rodovia da lama” para depois de 2026..

“É impossível que uma obra resolva um problema de uma região. Só o Estado do Amazonas é do tamanho do Nordeste inteiro. Então não tem como uma rodovia resolver um problema de infraestrutura. É impossível. Para um tipo de infraestrutura de dimensão é impossível. Agora a BR-319 é importante. Que outra obra haverá necessidade? Por exemplo, manter a hidrovia navegável o ano inteiro. Aliás, transformar o rio em hidrovia, porque a gente só tem rio. A gente não tem hidrovia. Então a gente precisa ter uma hidrovia o ano todo. Fazer um canal, fazer alguma solução que resolva o problema. Mais portos, portos no interior, aeroportos no interior. Tem uma diversidade grande de obras”, declarou Augusto César Barreto Rocha, professor da Ufam.

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Foto: divulgação/Super Terminais