Amazônia: ouro ajuda a lavar dinheiro do tráfico de drogas, diz PF

As investigações da Polícia Federal na Amazônia expõem o envolvimento de traficantes, garimpeiros e empresários em operações de narcogarimpo.

Diamantino Junior

Publicado em: 18/09/2023 às 15:28 | Atualizado em: 18/09/2023 às 15:28

Quando a Polícia Federal do Paraná (PF-PR) desencadeou uma operação de combate ao tráfico internacional de drogas em novembro de 2020, Heverton Soares Oliveira, conhecido como “Grota”, não estava no alvo das autoridades.

No entanto, Grota, que aparentava ser um bem-sucedido empresário no Pará, optou por se esconder em um garimpo ilegal de ouro em Itaituba (PA), a 3.000 quilômetros de Curitiba, de acordo com a PF.

A investigação subsequente, chamada de Operação Narcos Gold, colocou Grota no centro das atenções. Ele e um piloto de avião, que foi seu sócio e já havia sido preso em 2004 por prestar serviços a traficantes de drogas, estavam supostamente controlando diversas aeronaves e pistas clandestinas para o transporte de ouro e cocaína.

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Essas investigações da PF revelam as complexas conexões entre traficantes, garimpeiros, empresários e policiais suspeitos de envolvimento nos chamados “narcogarimpos”. Essa estratégia foi adotada por cartéis de drogas na Amazônia para lavar dinheiro por meio da exploração de ouro, aproveitando as lacunas na fiscalização.

Investigação

Os detalhes das investigações da PF foram acompanhados pela Repórter Brasil, que analisou mais de 17 mil páginas de documentos e rastreou dez operações conduzidas nos últimos cinco anos.

Embora as autoridades tenham investigado bens e negócios suspeitos no valor de R$ 27 bilhões, com a prisão de 225 pessoas e o pedido de apreensão de 236 aeronaves, os processos ainda estão pendentes na Justiça.

Grota, apontado como líder de uma organização criminosa envolvida nos narcogarimpos, conseguiu evitar a prisão após nove meses foragido e recuperou as aeronaves apreendidas, enfrentando as acusações em liberdade. A defesa de Grota nega todas as acusações e chama as investigações de “estória com aspectos mirabolantes”.

A PF alega que o grupo de Grota movimentou ilegalmente cerca de R$ 1 bilhão no Pará entre 2017 e 2020, usando laranjas e empresas fictícias para lavar dinheiro do tráfico de drogas por meio da compra e venda de fazendas, gado e garimpos.

Embora as exportações de ouro extraído na Amazônia tenham quase dobrado entre 2017 e 2022, atingindo 22 toneladas, avaliadas em R$ 6,6 bilhões, as apreensões de cocaína triplicaram no mesmo período, totalizando 32 toneladas em 2021.

Os grupos criminosos se beneficiam da variação de preços desses produtos e aproveitam as rotas aéreas e fluviais na Amazônia para suas atividades ilícitas. O ouro e a cocaína se tornaram alvos lucrativos para o tráfico, atraindo esses grupos para dentro dos garimpos.

As investigações revelam a complexidade e a falta de controle nas áreas de garimpo ilegal, bem como as conexões obscuras entre o tráfico de drogas, o tráfico de ouro e o contrabando na região.

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Foto: redes sociais