Pressionado por Lula e Moro, Bolsonaro foca no discurso anticorrupção
Em discurso durante solenidade em BrasÃlia, o governante também voltou a usar a retórica anticorrupção (marca da Lava Jato) e disse considerar que o trabalho da PF no combate a desvios de agentes públicos

Publicado em: 17/12/2021 Ã s 10:32 | Atualizado em: 17/12/2021 Ã s 17:38
O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez nesta quinta-feira (17) um afago à PolÃcia Federal, instituição que ganhou visibilidade nos últimos anos devido à s ações da Lava Jato — evento muito associado ao ex-juiz federal Sérgio Moro, provável adversário na corrida eleitoral do ano que vem.
Em discurso durante solenidade em BrasÃlia, o governante também voltou a usar a retórica anticorrupção (marca da Lava Jato) e disse considerar que o trabalho da PF no combate a desvios de agentes públicos “fez com que ele [Bolsonaro] aparecesse para a polÃtica em 2018”.
“Se associa muito a PolÃcia Federal no combate à corrupção. Sim, é uma das missões mais importantes de vocês. E vocês, agindo como agem, cada vez mais leva à nossa população o sentimento de que o Brasil pode dar certo. Nós continuamos combatendo a corrupção. Um mal que veio para o Brasil, mas que cada vez mais ele se apresenta como que pode ser combatido, como que nós podemos ter sucesso nessa questão [sic]”, disse ele durante formatura de policiais federais.
“E digo mais: o trabalho de vocês, em grande parte, fez com que eu aparecesse até na polÃtica em 2018. Não só com discurso. Mas dentro da Câmara dos Deputados, como temos aqui alguns parlamentares presentes, deputados federais oriundos da PolÃcia Federal e irmanados conosco nessa luta”, Jair Bolsonaro (PL), em evento realizado em BrasÃlia
As declarações de Bolsonaro, com elogios à PF e com referências aos esforços anticorrupção no paÃs, ocorrem em meio ao crescimento da pré-candidatura de Moro, ex-juiz federal que se notabilizou à frente da Lava Jato junto a personagens do MPF (Ministério Público Federal) como o ex-procurador Deltan Dallagnol. A dupla se filiou ao mesmo partido, o Podemos, e ensaia a migração para a polÃtica no ano que vem. Deltan deve concorrer a uma vaga no Congresso Nacional.
“É fácil combater a corrupção? Não é fácil. Mas é um objetivo a ser perseguido. Porque isso dá esperança a todos nós brasileiros. Que nós podemos, sim, lá na frente, ter dias melhores para o paÃs”, Jair Bolsonaro (PL)
Na primeira pesquisa feita pelo Ipec após a filiação de Moro ao Podemos, divulgada na terça-feira (14), observou-se o ex-magistrado com 6% das intenções de voto — em terceiro lugar, atrás de Bolsonaro (21%) e de Luiz Inácio Lula da Silva (48%). A margem de erro da amostra é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, com nÃvel de confiança de 95%.
Estrategistas da pré-candidatura de Moro avaliam que ele tem potencial para crescer ainda mais e consolidar o discurso de uma “terceira via” viável, isto é, uma alternativa aos representantes dos campos mais polarizados, Bolsonaro (à direita) e Lula (à esquerda).
No entorno do atual presidente, há entendimento de que Moro pode atrair votos de eleitores com viés ideológico conservador e alinhados à direita —principalmente em função do destaque obtido durante os anos de Operação Lava Jato.
Em 2018, a repercussão do trabalho da Lava Jato tornou-se um evento polÃtico que ajudou a impulsionar o triunfo de um bloco polÃtico vinculado ao ideário da direita conservadora. A vitória de Bolsonaro na disputa com o PT foi o principal Ãcone desse movimento, mas as eleições também foram marcadas por uma renovação em massa do perfil do Congresso Nacional.
Dentro do Parlamento, inclusive, surgiu a “bancada lavajatista”, que foi capitaneada pelo Podemos (partido que Moro acabou se filiando no mês passado).
Além da questão do combate à corrupção, tema em que o ex-juiz federal e o atual presidente devem disputar a “paternidade”, os elogios de Bolsonaro à PF também colocam em perspectiva o motivo da saÃda de Moro do atual governo, em abril de 2020.
À época, o então ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro pediu demissão e alegou que o chefe tentou interferir na escolha do diretor-geral da PolÃcia Federal. O presidente nega ter agido dessa forma e acusa o ex-subordinado de traição.
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Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República