Venda barata de refinaria a árabes tem a ver com joias de Bolsonaro? PF apura
PF investiga possível relação entre venda da Refinaria Landulpho Alves e recebimento de joias por Bolsonaro durante viagem oficial aos Emirados Árabes.

Diamantino Junior
Publicado em: 05/01/2024 às 13:28 | Atualizado em: 05/01/2024 às 13:32
A Polícia Federal (PF) abriu uma investigação para apurar a possível relação entre a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM) à empresa Mubadala Capital, dos Emirados Árabes, e o recebimento de joias pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante uma viagem oficial ao país. A informação é do BLOG DA ANDRÉIA SADI.
Há cerca de dois anos, a Petrobrás vendeu o polo de refino, localizado em São Francisco do Conde, na Bahia, e seus ativos associados para o grupo de investimentos Mubadala Capital, sediado nos Emirados Árabes e pertencente à família real.
À época, a operação de venda foi concluída com o pagamento de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,1 bilhões). A Acelen, empresa criada pelo grupo Mubadala Capital para a operação, assumiu a gestão a partir de 1º de dezembro — com a venda, a RLAM passou a se chamar Refinaria de Mataripe.
No entanto, na última quinta-feira (04/1), a Controladoria-Geral da União (CGU) publicou um relatório apontando que a análise do valor de mercado da refinaria foi feita num momento que os valores estavam impactados pela pandemia — o que pode ter derrubado o valor da avaliação da refinaria.
“A Pandemia causada pela Covid-19 e a consequente turbulência econômica atingiram a execução do Projeto Phil, gerando riscos e incertezas quanto ao futuro da indústria do petróleo e ao cenário econômico mundial. Diante disso, a Petrobrás optou por dar continuidade ao processo de desinvestimento dos clusters RLAM”, informou o documento da CGU.
O Projeto Phil contemplava a alienação integral de oito refinarias, para que a Petrobrás passasse a investir melhor a exploração e produção em água profunda e ultra profunda, como o pré-sal.
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Por conta da avaliação negativa do mercado, a Petrobrás postergou a venda de sete refinarias – menos da Refinaria Landulpho Alves. Segundo o relatório da CGU, a empresa concordou que a pandemia teve forte impacto, mas não explicou por que a RLAM seria diferente das demais refinarias.
“[A venda RLAM] não foi realizada de forma apropriada, ocasionando risco de impacto negativo no resultado financeiro”, diz o relatório, que não constam os valores negociados na venda do polo de refino porque a Petrobrás pediu sigilo.
O documento da CGU foi revelado primeiro pelo Metrópoles e o blog também teve acesso. Vale destacar que a PF está investigando a situação, mas não apresentou provas que relacionem as joias à venda da refinaria.
O blog entrou em contato com Bolsonaro, mas não teve retorno até a última atualização dessa matéria.
Viagem de Bolsonaro
No mês anterior a venda da RLAM, em outubro de 2021, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez uma viagem oficial para a Arábia Saudita. Nesta viagem, o governo brasileiro recebeu o kit de joias femininas avaliadas em R$ 4.150.584.
O governo brasileiro tentou entrar no Brasil sem declarar o valor para a Receita Federal. Porém, o kit foi apreendido no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na bagagem de um integrante da equipe do Ministério de Minas e Energia, na volta de uma viagem.
Joias para Michelle
No mês anterior à venda da RLAM, em outubro de 2021, Bolsonaro fez uma viagem oficial à Arábia Saudita. Durante a viagem, o governo brasileiro recebeu um kit de joias femininas avaliadas em R$ 4,150.584. As joias seriam destinadas à então primeira-dama Michelle Bolsonaro.
O governo brasileiro tentou entrar no Brasil sem declarar o valor das joias para a Receita Federal. Porém, o kit foi apreendido no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, na bagagem de um integrante da equipe do Ministério de Minas e Energia.
Posicionamento da Petrobrás
Em nota, a Petrobrás informou que o processo de venda da RLAM ocorreu de acordo com os procedimentos de governança e conformidade da empresa, “nos termos da sistemática desinvestimentos da companhia vigente à época”.
“Na ocasião, o processo também foi avaliado por órgãos externos. Posteriormente, o tema foi apreciado também pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que concluiu que o processo atendeu à referida sistemática”.
“A atual gestão da Petrobrás reafirma seu compromisso com a governança corporativa, [e] está à disposição para prestar todas as informações necessárias aos órgãos externos”.
Foto: Clauber Cleber Caetano/PR