Afinal, paracetamol faz bem ou causa problema ao organismo?

Apesar de ser conhecido há mais de um século, o paracetamol ainda está cercado de mistérios

Ferreira Gabriel

Publicado em: 27/07/2023 às 09:01 | Atualizado em: 27/07/2023 às 09:01

Disponível livremente em farmácias, sem necessidade de receita médica, o paracetamol está entre os remédios mais consumidos de todo o mundo.

Para ter ideia, algumas estimativas apontam vendas de 49 mil toneladas desse medicamento ao ano nos Estados Unidos — o que significa 298 comprimidos por americano a cada 12 meses. No Reino Unido, a média é de 70 unidades desse fármaco por pessoa durante o mesmo período.

E o mais curioso dessa história é que, apesar de ser conhecido há mais de um século, o paracetamol ainda está cercado de mistérios: o mecanismo de ação dele ainda não foi completamente desvendado pelos cientistas.

As evidências sobre a eficácia dessa medicação para diversos incômodos também variam — em alguns casos, como a dor na lombar, os efeitos do comprimido ou das gotas não são superiores aos do placebo, uma substância que não tem efeito terapêutico algum.

Uma coisa que está bem clara para os especialistas, porém, é o risco de overdose: esse medicamento é a principal causa de falência do fígado em países como EUA e Reino Unido, o que gerou alertas de várias entidades de saúde nos últimos anos.

Por trás desse cenário, está a alta disponibilidade dos comprimidos e a falta de orientações sobre os limites de consumo, como você vai entender ao longo desta reportagem.

Após a publicação da reportagem, a Kenvue (empresa desmembrada a partir da Johnson & Johnson que é responsável pelo Tylenol) enviou um posicionamento à BBC News Brasil dizendo que “a saúde e a segurança das pessoas são as principais prioridades”.

“Tylenol, cujo princípio ativo é o paracetamol, tem mais de 60 anos de história clínica que apoiam sua segurança e eficácia. A bula do medicamento contém instruções importantes de uso, incluindo limites de dosagem, precauções e advertências para situações específicas. Como acontece com qualquer medicamento, as pessoas devem ler e seguir cuidadosamente a bula de Tylenol e consultar seu médico se tiverem dúvidas”, diz o texto. 

 ”O Tylenol é um dos medicamentos mais utilizados e estudados no mundo e sua segurança e eficácia são comprovadas por centenas de estudos clínicos publicados em revistas científicas de diversos países. No Brasil, o paracetamol faz parte da lista nacional de medicamentos essenciais, pois seu princípio ativo é uma das opções mais indicadas para o alívio seguro e eficaz da dor”, conclui a empresa. 

A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (Acessa) enviou nota após a publicação afirmando que defende “o uso de MIPs [medicamentos isentos de prescrição] e produtos para saúde de forma responsável e o letramento em saúde, que é a busca de fontes confiáveis de informação para que uma pessoa possa tomar melhores decisões sobre a sua saúde”.

“Paro o uso seguro de um medicamento isento de prescrição, é necessário sempre consultar antes as informações da bula e do rótulo do produto. Além de estarem disponíveis na própria embalagem dos MIPs, essas informações também estão disponíveis no site da fabricante do medicamento e no bulário eletrônico da Anvisa. E vale sempre reforçar que, em caso de dúvidas, o médico e o farmacêutico devem ser consultados, sendo importantes aliados na promoção do uso racional dos MIPs”, acrescentou a assessoria de imprensa da associação.

Já a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) e a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) disseram que, por diretrizes internas, não fazem comentários sobre questões envolvendo moléculas/medicamentos específicos.

Leia mais na matéria de André Biernath na BBC News Brasil

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Foto: Getty Images