Bolsonaro chateado com Nunes por não dar cargo ao vice do PL

Ricardo Nunes amplia tensão com bolsonarismo em São Paulo.

Diamantino Junior

Publicado em: 06/01/2025 às 19:27 | Atualizado em: 06/01/2025 às 19:27

A decisão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), de não incluir seu vice, Ricardo Mello Araújo (PL), em cargos estratégicos do secretariado do segundo mandato, revela tensões políticas e frustra expectativas que vinham sendo construídas desde a campanha eleitoral de 2024. Essa escolha rompe uma tradição política consolidada na capital paulista, em que vice-prefeitos geralmente assumem pastas de destaque, e lança luz sobre as complexas relações entre o prefeito reeleito e o bolsonarismo.

Tradição rompida

Desde os anos 1980, é comum que vice-prefeitos em São Paulo ocupem posições de relevância no secretariado.

A ausência de Mello Araújo, no entanto, marca uma exceção notável. Cotado inicialmente para a Secretaria de Projetos Estratégicos e, em seguida, para Transportes, o vice foi preterido, com as pastas sendo destinadas a aliados do PP e do governador Tarcísio de Freitas.

Durante a campanha, Jair Bolsonaro, padrinho político de Mello Araújo, assegurou que o aliado teria protagonismo na gestão, o que torna a exclusão ainda mais simbólica.

Conflitos e tensões na base aliada

A aliança entre Nunes e o bolsonarismo foi marcada por desconfianças desde o início.

Durante o primeiro turno, o avanço de Pablo Marçal (PRTB) nas pesquisas mostrou que o apoio bolsonarista não era automático.

Apesar de ser exaltado por Nunes após a vitória, Mello Araújo não encontrou espaço no núcleo duro do governo.

Essa situação evidencia que, apesar dos elogios à atuação do coronel na Ceagesp e na Polícia Militar, o protagonismo político prometido ficou aquém das expectativas.

Impacto no governo

Sem um cargo formal no secretariado, Mello Araújo ficará responsável por questões estratégicas gerais e pela representação da prefeitura em temas delicados, como o grupo de trabalho voltado à Cracolândia. Embora Nunes tenha minimizado a relevância da nomeação em secretarias, a ausência de atribuições concretas para o vice enfraquece sua posição política e pode criar ruídos com o PL, que já controla duas secretarias importantes: Verde e Meio Ambiente, com Rodrigo Asiuchi, e Desestatização e Parcerias, com Luiz Fernando Machado.

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Desdobramentos futuros

A exclusão de Mello Araújo do secretariado é um movimento arriscado para Ricardo Nunes.

Apesar de ter consolidado alianças com outras forças políticas, como PP e Republicanos, o afastamento do bolsonarismo pode gerar instabilidade em um contexto de governabilidade na maior cidade do país. A decisão também lança dúvidas sobre a capacidade do prefeito de equilibrar interesses divergentes dentro de sua base aliada.

A trajetória política de Ricardo Nunes tem sido marcada por pragmatismo, mas a exclusão de Mello Araújo pode se tornar um teste importante para sua habilidade de gerenciar conflitos internos e garantir a estabilidade necessária para conduzir um segundo mandato bem-sucedido.

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Foto: divulgação/Carla Fiamini