Exército e general Mourão são acusados de corrupção em compra

O livro "Diários da Caserna: Dossiê Smart", do coronel Rubens Pierrotti Jr., denuncia corrupção no Exército Brasileiro, destacando irregularidades na compra de um simulador de apoio de fogo, com acusações diretas ao general Hamilton Mourão.

Diamantino Junior

Publicado em: 16/07/2024 às 18:16 | Atualizado em: 16/07/2024 às 18:16

O Exército Brasileiro e o general Hamilton Mourão estão no centro de uma polêmica após serem acusados de corrupção na compra de um simulador de apoio de fogo da empresa espanhola Tecnobit. As alegações foram detalhadas no recém-lançado livro “Diários da Caserna: Dossiê Smart: A História que o Exército Quer Riscar”, do coronel da reserva Rubens Pierrotti Jr., publicado pela editora Labrador.

Um “Roman à Clef” inspirador

Pierrotti utilizou o formato “roman à clef” – um romance que narra eventos reais com nomes fictícios – para relatar as denúncias. Segundo ele, sua inspiração veio de “Elite da Tropa”, de Rodrigo Pimentel. Em mais de 500 páginas, Pierrotti acusa ex-colegas de farda, incluindo Mourão, de irregularidades na compra do simulador, que custou €13,98 milhões (cerca de R$ 83 milhões pelo câmbio atual).

As denúncias

O autor, que hoje é advogado, foi supervisor operacional do projeto por três anos e desligou-se em 2014, denunciando várias irregularidades, como pagamentos antecipados e tráfico de influência.

O equipamento, que simula combates de artilharia em realidade virtual, foi reprovado oito vezes pelo corpo técnico do Exército.

Apesar disso, Mourão teria sido responsável por destravar a compra, conforme narrado no livro através do personagem “Simão”.

Investigação e Reações

As denúncias foram arquivadas pelo Ministério Público Militar (MPM) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O Exército e Mourão defendem a compra, afirmando que trouxe economia para a corporação. Contudo, uma investigação do TCU apontou diversas irregularidades no processo, que foram posteriormente ignoradas pelo plenário da corte em 2021.

Novas revelações

Pierrotti traz à tona novas acusações no livro, incluindo alegações de que Mourão teria destravado a compra do simulador para evitar um processo por espionagem contra um oficial do Exército brasileiro. Questionado sobre isso, o Exército não respondeu, e Mourão classificou a acusação como “fake”.

Outros envolvidos

Além de Mourão, o livro acusa o general Marco Aurélio Vieira de ser o principal responsável pela aquisição do simulador. Vieira, ex-secretário de Esporte do governo Jair Bolsonaro, teria sido o mentor do negócio. O processo ocorreu sob a gestão dos comandantes do Exército, Enzo Peri e Eduardo Villas Bôas.

Repercussão e Defesa

O Exército, em resposta genérica, afirmou prezar pela correta execução da administração pública e destacou a economia e ganhos operacionais proporcionados pelo projeto do simulador. Mourão, que em 2018 chamou Pierrotti de “ressentido” e “descompensado”, não quis comentar sobre o livro.

Leia mais

’Não é minha função’, diz Mourão, senador do RS, sobre ajudar gaúchos

“Diários da Caserna” traz um olhar crítico sobre práticas no Exército, incluindo o uso inadequado de verbas e a confusão entre público e privado.

A obra promete ser um divisor de águas nas discussões sobre ética e transparência dentro das Forças Armadas brasileiras.

Leia mais na Folha de S.Paulo

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil