Mourão nega ter admitido nos EUA que Bolsonaro preparava golpe
O jornal nipo-britânico Financial Times relatou que o governo de Joe Biden enviou sinais em 2022 a autoridades brasileiras de que se manteria neutro na disputa, mas retaliaria qualquer sinal de ataque ao resultado do pleito.

Diamantino Junior
Publicado em: 23/06/2023 às 10:18 | Atualizado em: 23/06/2023 às 10:18
Hamilton Mourão, senador e ex-vice-presidente da República pelo partido Republicanos-RS, refutou as alegações de ter expressado preocupação com um potencial golpe de Estado no Brasil, orquestrado pelo então presidente Jair Bolsonaro e pelas Forças Armadas, durante uma visita aos Estados Unidos no ano passado.
Mourão, general da reserva, afirmou à Folha de S. Paulo ter dito a investidores americanos que Bolsonaro respeitaria o resultado das eleições e que os militares se manteriam fiéis aos seus compromissos constitucionais.
A reunião do então vice-presidente nos EUA ocorreu apenas três dias depois da apresentação feita por Bolsonaro em Brasília a embaixadores estrangeiros, ocasião em que o hoje ex-presidente fez ameaças golpistas e reiterou teorias das conspiração sobre as urnas eletrônicas utilizadas no país.
Revelações do diplomata Thomas Shannon
O jornal nipo-britânico Financial Times relatou que o governo de Joe Biden enviou sinais em 2022 a autoridades brasileiras de que se manteria neutro na disputa, mas retaliaria qualquer sinal de ataque ao resultado do pleito — ameaça repetida em discursos públicos e privados de Bolsonaro e aliados.
Uma das fontes ouvidas pela publicação é Thomas Shannon, embaixador dos EUA no Brasil entre 2009 e 2013, tendo sido também subsecretário para Assuntos Políticos do Departamento de Estado, um dos cargos mais importantes da diplomacia americana.
Conversa preocupante com Mourão
Ao Financial Times, Shannon afirmou que, na visita de Mourão a Nova York, em julho de 2022, durante almoço privado com investidores, o então vice-presidente teria evitado responder a perguntas sobre riscos de um golpe, reiterando confiança nas Forças Armadas e em seu compromisso com a democracia.
No entanto, ao sair do encontro e entrar com o diplomata em um elevador, Mourão teria manifestado uma perspectiva mais perturbadora.
De acordo com a reportagem, Shannon disse a Mourão nessa conversa particular que compartilhava dos receios de golpe expressos pelos investidores e que estava “muito preocupado”.
Mourão nega a versão veiculada pela publicação nipo-britânica.
Durante boa parte de seu mandato, e em especial na reta final, Bolsonaro deu diversos sinais de que poderia não respeitar o resultado das urnas, tendo como justificativa as alegadas ameaças de fraude nas urnas eletrônicas, que jamais foram comprovadas.
Essa reunião é o ponto central do julgamento do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que começou nesta quinta-feira (22) e que pode deixar Bolsonaro inelegível.
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Foto: Geraldo Magela/Agência Senado