Bolsonaro larga ajudante Cid e Lula quer expulsão do Exército
Militares consideram essa possibilidade após uma eventual condenação e o cumprimento dos ritos administrativos.

Diamantino Junior
Publicado em: 19/06/2023 às 13:29 | Atualizado em: 19/06/2023 às 13:29
Integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Ministério da Defesa estão considerando a situação do tenente-coronel Mauro Cid como “insustentável” à medida que avançam as investigações sobre o envolvimento dele no roteiro do golpe, e acreditam que ele deve ser expulso do Exército.
No entanto, os militares admitem que essa possibilidade só deve ocorrer após uma eventual condenação e o cumprimento dos procedimentos administrativos militares.
Mauro Cid, braço-direito de Jair Bolsonaro durante os quatro anos de presidência, foi preso em 3 de maio sob suspeita de participar de um esquema para produzir comprovantes falsos de vacinação contra a covid-19, tanto para o ex-presidente quanto para si mesmo e seus familiares.
Em seu celular, no entanto, foram encontradas conversas, incluindo com outros militares em serviço ativo, e documentos relacionados a um golpe de Estado com o objetivo de manter Bolsonaro no poder, mesmo após sua derrota nas eleições para Lula.
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Um desses documentos, como mostrado em um blog, mencionava a possibilidade de estabelecer um estado de sítio “dentro das quatro linhas” – uma expressão frequentemente utilizada pelo ex-presidente para negar suas tendências antidemocráticas.
Após a divulgação desses conteúdos, o Exército emitiu um comunicado público alegando que as conversas não representam o pensamento da instituição. Segundo militares ouvidos pelo blog, a corporação não pretende “passar a mão na cabeça” de Cid, e todos aqueles que estiveram envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro devem responder a processos administrativos que podem resultar em punições.
No entanto, eles também não devem abandoná-lo – como alegam aliados do militar que Bolsonaro fez. Por enquanto, a carreira de Cid está em suspensão – ele não deve receber promoções nem ser indicado para cargos (o coronel Jean Lawand Junior, flagrado nas conversas com Cid pedindo que Bolsonaro “dê a ordem”, teve sua nomeação para um posto diplomático nos Estados Unidos suspensa após a divulgação dos diálogos).
“O Exército não abandona porque isso teria um efeito [negativo] no público interno. É o que faria por qualquer um”, resume um militar ouvido pelo blog.
No círculo próximo de Cid, a avaliação é de que Bolsonaro abandonou seu ex-braço-direito.
“Bolsonaro não cuida dos feridos. Ele só se preocupa com os filhos”, afirma um militar amigo de Cid, questionando o silêncio de outros membros da instituição que se alinharam a Bolsonaro.
“Onde estão [o general e ex-ministro da Defesa] Paulo Sérgio, [o general, ex-ministro e candidato a vice-presidente] Braga Netto, [o almirante Almir] Garnier [que não compareceu à posse do sucessor, indicado por Lula]?
O pai de Cid, o general Cid, tem sido aconselhado a se pronunciar publicamente sobre o caso. A ideia é que uma eventual explicação e defesa pública possam ajudar o Judiciário a decidir pela libertação do ex-braço-direito de Bolsonaro da prisão e permitir que ele cumpra prisão domiciliar, mesmo que com o uso de uma tornozeleira eletrônica.
Leia mais na coluna da Andréia Sadi no g1.
Foto: reprodução