Bolsonaro tinha discurso pronto para reconhecer vitória de Lula

E-mails sob análise na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro revelam que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro estava preparando um discurso oficial no qual ele reconheceria a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva. O texto, elaborado pelo ex-ministro das Comunicações Fábio Faria, não chegou a ser apresentado publicamente por Bolsonaro.

Os documentos retidos pela comissão indicam que em 31 de outubro de 2022, um dia após o segundo turno das eleições, Fábio Faria enviou uma proposta de pronunciamento para ser lida por Bolsonaro.

A sugestão de discurso foi encaminhada a Daniel Lopes de Luccas, um dos ajudantes de ordens do ex-presidente, com cópia para Carlos França, então ministro das Relações Exteriores.

No texto, podia-se ler: “Eu sempre disse que o Brasil está acima de tudo e Deus acima de todos e que daria minha vida pelo Brasil. Por esse motivo, não contestarei o resultado das eleições”.

Fábio Faria confirmou o envio do e-mail, mas não esclareceu por que Bolsonaro não fez o pronunciamento. O ex-presidente e Carlos França não se manifestaram sobre o assunto.

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Um colaborador próximo de Bolsonaro revelou que o texto preparado por Fábio Faria foi avaliado e debatido por outros membros do governo antes de ser encaminhado ao ajudante de ordens de Bolsonaro.

O ex-presidente, por sua vez, só abordou o resultado das eleições dois dias após a vitória de Lula, período no qual manteve um perfil discreto no Palácio da Alvorada.

Posteriormente, Bolsonaro se reuniu com ministros e aliados antes de realizar um pronunciamento no qual não fez menção à derrota nas urnas nem citou o presidente Lula.

Essa atitude contrastou com a declaração de Ciro Nogueira, então ministro da Casa Civil, que anunciou o cumprimento da lei e a coordenação da transição de governo com a equipe de Lula.

Embora diversos países e líderes políticos tenham reconhecido rapidamente a lisura do pleito brasileiro, o discurso sugerido por Fábio Faria também continha críticas a institutos de pesquisa e decisões judiciais.

O tom de Bolsonaro em relação ao processo eleitoral já resultou em uma condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tornando-o inelegível até 2030.

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Foto: PL