Jornalista: Amazonas é destaque negativo no relatório da violência

De acordo com entidade dos jornalistas, em 2024 houve oito casos

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 20/05/2025 às 21:31 | Atualizado em: 20/05/2025 às 21:34

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou nesta terça-feira (20) o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa 2024.

O lançamento aconteceu em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial, da Câmara dos Deputados.

Dessa forma, no ano passado, foram registrados 144 episódios de violência contra a atividade jornalística no Brasil. O número representa uma redução de 20,44% em relação aos 181 casos registrados ao longo de 2023.

“Essa redução de 20% não representa necessariamente uma melhora no ambiente de segurança dos jornalistas, considerando o aparecimento de outras formas de agressão com maior potencial letal ou simbólico, como tentativa de homicídio e ataques misóginos”, disse a presidente da Fenaj, Samira de Castro.

Mas, verificando os números na região Norte, o relatório da violência contra jornalistas aponta 22 casos, que correspondem a 15,28% do quadro nacional, índice maior do que o do Centro-Oeste. No relatório anterior, o Norte ocupava o posto de região menos violenta, com 19 casos.

Assim, no recorte regional, o Amazonas aparece em primeiro lugar, com oito casos. Foram quatro agressões físicas, duas situações de risco de morte, uma censura e uma ameaça/ataque verbal presencial.

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Em todos os casos, o Sindicato dos Jornalistas do Amazonas (Sinjor-AM) e a Fenaj pediram providências às autoridades para responsabilização dos agressorees.

Queda no Pará

O Amazonas, com oito casos, é seguido do Pará (seis), Tocantins, com três casos, Acre e Rondônia com dois episódios cada e Roraima apenas um. Não houve registro no Amapá, mas não se pode descartar a possibilidade de subnotificação de casos.

Segundo o levantamento da Fenaj, o Pará registra uma curva interessante: em 2022 foram registrados 21 casos, número que caiu para 10 no relatório passado e para seis neste de 2024, configurando uma tendência de menor violência contra jornalistas na região.

Jornalismo na Amazônia

Na avaliação da presidenta da Fenaj, esses dados da região Norte estão intrinsecamente ligados ao território e suas populações tradicionais, indígenas, ribeirinhos, que já sofrem muito com a violência, advinda das atividades irregulares de garimpo, desmatamento, tráfico de drogas e uma série de situações em que os jornalistas e comunicadores atuantes na região estão muito propensos a sofrer violências e violências mais letais.

“Nós não registramos nenhum caso de assassinato em 2024, mas nós tivemos o caso do jornalista britânico Dom Philips na região do Vale do Javari, no Amazonas, que confirma para o mundo esse potencial que nós alertamos todo ano. de necessidade de proteção daqueles e daquelas que fazem a comunicação no seu local, no seu território”, declarou Samira de Castro.

Samira de Castro, presidenta da Fenaj

Mídia e a COP-30

Em relação à COP 30, a presidenta da Fenaj diz que os trabalhadores da mídia precisam firmar um pacto pela integridade da informação e pela defesa da informação do clima.

Nós vivemos em momentos de negacionismos muito fortes. Há o negacionismo climático e nós, jornalistas, temos o dever, inclusive, proposto pela FIJ de assinar uma carta que diz que não existe jornalismo em um planeta morto. Portanto, nós precisamos defender a o clima, nós precisamos informar a população para que ela se conscientize da necessidade de preservar os biomas, preservar a Amazônia, defender aquele território e colocar a nossa prática profissional a serviço dessa comunicação”, finalizou a presidente da Fenaj, Samira de Castro.

Tipos de violência

O assédio judicial, que consiste no uso abusivo de mecanismos jurídicos com a intenção de coibir e intimidar o trabalho jornalístico registrou pequena variação numérica — de 25 casos em 2023 para 23 em 2024 — mas sua proporção em relação ao total de violências aumentou, passando de 13,81% para 15,97%.

“Esse crescimento percentual reforça a permanência dessa prática como uma das mais utilizadas para silenciar jornalistas, agora com maior reconhecimento público de seu caráter abusivo”, afirma o relatório.

A censura, por sua vez, apresentou o maior crescimento proporcional entre todas as categorias: passou de 5 casos em 2023 (2,76%) para 11 em 2024 (7,64%), representando um aumento de 120%.

Esse dado, na avaliação da Fenaj, reforça a retomada de iniciativas explícitas de controle do conteúdo jornalístico, muitas vezes impulsionadas por agentes públicos ou decisões judiciais.

“Fica evidente, pelo pefill dos ataques, dos agressores e o período de maior volume de agressões, que há uma intrínseca relação entre a disputa política, os discursos de ódio nas redes sociais e o aumento da violência contra profissionais de imprensa. Como já dito, a maioria desses ataques parte do espectro ideológico de direita e extrema-direita”, analisa Samira de Castro.

Foto: divulgação