Comércio: ponte Brasil-Bolívia promete nova polêmica ambiental

A iniciativa visa melhorar o transporte e reduzir custos de exportação e importação, mas enfrenta oposição ambiental e indígena.

Governo federal anuncia edital de R$ 430 milhões para a construção de ponte Brasil-Bolívia sobre o rio Mamoré.

Diamantino Junior

Publicado em: 16/11/2023 às 20:06 | Atualizado em: 16/11/2023 às 20:06

O governo federal anunciou um projeto ambicioso para a construção de uma ponte binacional que ligará o Brasil à Bolívia, cruzando o rio Mamoré entre Guajará-Mirim, em Rondônia, e Guayaramerín, na Bolívia. Com um investimento de R$ 430 milhões, a estrutura de 1,2 km de extensão e 17 metros de largura tem o potencial de revolucionar o transporte na região.

Prevista para ser concluída em três anos, a ponte é vista como uma solução para reduzir os custos de exportação e importação para os estados do Amazonas, Acre e Rondônia.

No entanto, a iniciativa não está isenta de desafios, enfrentando a oposição de ambientalistas, do Ministério Público Federal (MPF) e de diversas etnias indígenas.

Impacto positivo no agronegócio

Em defesa do projeto, uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de 2021 destaca os impactos positivos que a infraestrutura teria na região.

Especialistas ressaltam que a ponte facilitaria o escoamento da produção agrícola, especialmente de carnes, tornando-as mais competitivas nos mercados internacionais.

“A carne fresca e refrigerada tem um valor médio no mercado mundial 20% superior ao da carne congelada. O Brasil, que responde por 20% das exportações mundiais de carne congelada, poderá ganhar vantagem competitiva ao cruzar os Andes por terra, não apenas pelo custo, mas principalmente pelo tempo de transporte”, afirma a nota.

Além do benefício ao agronegócio, a ligação rodoviária para o Pacífico também visa reduzir os custos de importação de insumos agropecuários, como fertilizantes. A atual rota, que passa pelo Canal do Panamá, poderia ser otimizada, economizando tempo e recursos.

Oposição ambiental

Contudo, a proposta enfrenta uma forte resistência de setores ambientalistas e de diversas etnias indígenas que consideram a região crítica do ponto de vista socioambiental.

O rápido crescimento do desmatamento associado à pecuária extensiva de corte é uma das principais preocupações levantadas por esses grupos.

Um manifesto lançado em agosto durante o “Encontro sobre os Impactos da Fronteira Agrícola, Desmatamento e Mineração na Região Amacro” expressou o repúdio ao modelo de exploração econômica implementado na Zona de Desenvolvimento Sustentável Abunã-Madeira, anteriormente conhecida como Amacro (Amazonas, Acre e Rondônia).

O documento destaca a incompatibilidade do projeto com os modos de vida locais e os direitos da natureza.

Além da ponte, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) anunciou a construção de um viaduto que ligará as rodovias BR-364 e BR-435, facilitando o acesso ao município de Colorado do Oeste, em Rondônia, com um custo estimado de R$ 28,7 milhões.

O desenvolvimento econômico e a preservação ambiental parecem estar em rota de colisão, e o debate sobre o projeto promete ser acalorado nos próximos meses.

Leia mais no gr

Foto: Ministério dos Transportes