Mortes de Dom e Bruno deram visibilidade aos indígenas, diz Joenia Wapichana
Após o assassinato de um indigenista e de um jornalista, ela destaca a necessidade de maior divulgação e ação efetiva para garantir a segurança dos povos indígenas e a preservação de suas terras

Diamantino Junior
Publicado em: 04/06/2023 às 15:33 | Atualizado em: 04/06/2023 às 15:35
A presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, que nasceu em uma comunidade indígena em Boa Vista (RR) e é militante há muito tempo, acredita que o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips, ocorrido em junho de 2022, chamou novamente a atenção do Brasil e do mundo para um problema histórico: a vulnerabilidade na proteção dos territórios indígenas em todo o Brasil, especialmente na Amazônia.
Ao falar sobre o duplo homicídio que completa um ano nesta segunda-feira (05/6), Joenia questiona se o caso teria recebido tanta repercussão se não houvesse um jornalista estrangeiro entre as vítimas.
Ela ressalta que existem vários casos de agressões contra os povos indígenas que geralmente recebem pouca divulgação. De forma geral, a sociedade brasileira tem pouca informação sobre a gravidade do que ocorre na região amazônica, afirma a presidenta da Funai.
De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dos 176 assassinatos de indígenas registrados no Brasil em 2021, pelo menos 99 ocorreram em estados da Amazônia, liderados pelo Amazonas, com 38 ocorrências.
No dia 5 de junho de 2022, Dom e Bruno foram vistos pela última vez enquanto visitavam comunidades ribeirinhas próximas à Terra Indígena Vale do Javari, perto de Atalaia do Norte (AM).
Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian, estava realizando uma série de entrevistas com líderes comunitários e outros indivíduos para um futuro livro-reportagem sobre a preservação da Amazônia. Bruno coordenava reuniões com comunidades atendidas pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e trabalhava como membro licenciado da Funai desde fevereiro de 2020.
A insatisfação de Bruno com a política indigenista do governo Bolsonaro foi decisiva para que ele se afastasse e buscasse trabalhar em projetos de autoproteção comunitária da Univaja, onde também enfrentou ameaças de morte.
Joenia revela que, antes dos assassinatos de Bruno e Dom, servidores da Funai já alertavam para a necessidade de fortalecer as Bases de Proteção Etnoambiental e garantir a segurança dos trabalhadores, povos indígenas e comunidades.
Porém, após os assassinatos, a segurança adequada não foi fornecida e tudo foi colocado em dúvida durante um momento de fragilidade.
A presidenta da Funai admite que a região ainda sofre com a falta de efetivo para patrulhar uma área tão vasta quanto a segunda maior terra indígena do país, que abrange cerca de 8,4 milhões de hectares.
Para avançar nas políticas públicas de proteção dos territórios indígenas, a Funai precisa de estruturas e servidores suficientes.
Leia mais
Bruno e Dom: projeto traz luta de engenheiro pela pesca sustentável
Joenia menciona que o governo federal está buscando atender as principais reivindicações do movimento indígena, como a retomada das demarcações de áreas para uso exclusivo dos povos originários.
Após um hiato de mais de quatro anos, o governo homologou seis novas reservas indígenas em abril deste ano. No entanto, a presidenta ressalta que o fortalecimento das bases de proteção e a implementação de uma política de segurança pública eficaz e permanente são necessários.
A fiscalização fluvial também precisa ser reforçada, pois é uma fragilidade evidente, como evidenciado durante a crise humanitária recente na região yanomami, conclui Joenia.
Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil