Clima adverso e foco na exportação inflacionam comida, diz FGV
Esses fatores resultaram em um crescimento mais lento da produção de alimentos, pressionando os preços no mercado interno.

Diamantino Junior
Publicado em: 16/03/2025 às 10:18 | Atualizado em: 16/03/2025 às 10:18
Um estudo recente do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que condições climáticas desfavoráveis e a priorização de culturas voltadas para exportação têm contribuído para a elevação dos preços dos alimentos no Brasil. Esses fatores resultaram em um crescimento mais lento da produção de alimentos, pressionando os preços no mercado interno.
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro, a inflação acumulada em 12 meses para o grupo de alimentos e bebidas foi de 7,25%, superior ao índice geral de 4,56%. O estudo destaca que, entre 2012 e 2024, os preços de alimentação no domicílio aumentaram 162%, enquanto o IPCA geral subiu 109%, evidenciando um descompasso significativo.
Impacto das mudanças climáticas
As alterações climáticas, caracterizadas por eventos extremos e maior imprevisibilidade meteorológica, têm causado perturbações na oferta de commodities e produtos alimentícios. Esses efeitos negativos tornaram-se mais evidentes a partir de meados dos anos 2000, afetando diversas regiões globais, incluindo o Brasil.
Influência da desvalorização cambial
A significativa desvalorização do real frente ao dólar também desempenha um papel crucial na alta dos alimentos.
Um câmbio depreciado torna as exportações mais lucrativas, incentivando os produtores a direcionarem sua produção para o mercado externo.
Além disso, insumos agrícolas importados, como defensivos, fertilizantes e equipamentos, tornam-se mais caros, elevando os custos de produção.
Políticas internas e aumento da demanda
Políticas de incentivo ao consumo, como o aumento real do salário mínimo e a ampliação do Bolsa Família, elevaram a renda da população, resultando em maior demanda por alimentos.
Esse aumento na demanda, sem um crescimento correspondente na oferta, contribui para a elevação dos preços.
Medidas governamentais para conter a alta
Em resposta à escalada dos preços, o governo brasileiro anunciou a redução das tarifas de importação de nove produtos alimentícios, incluindo azeite, café, milho e carnes.
Essas reduções, que entrarão em vigor nos próximos dias após aprovação pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), visam aumentar a oferta desses produtos no mercado interno e conter a inflação alimentar.
Perspectivas futuras
O estudo da FGV sugere que, para mitigar a pressão inflacionária sobre os alimentos, é necessário investir em tecnologias agrícolas que aumentem a produtividade e tornem as culturas mais resilientes às mudanças climáticas. Além disso, políticas que equilibrem a produção destinada ao mercado interno e externo podem ajudar a estabilizar os preços dos alimentos no longo prazo.
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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil