Ex-chefe da Aeronáutica complica Bolsonaro e general no plano de golpe

Brigadeiro confirma ao STF tratativas do golpe e voz de prisão a Bolsonaro.

Adrissia Pinheiro

Publicado em: 22/05/2025 às 16:11 | Atualizado em: 22/05/2025 às 16:18

O brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Jr., ex-comandante da Aeronáutica, prestou depoimento ao STF nesta quarta-feira (21) e confirmou tratativas golpistas durante o governo Bolsonaro.

Segundo ele, em uma das reuniões, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio, apresentou um documento que visava impedir a posse de Lula. “Perguntei se o texto previa a não assunção do presidente. Ele disse que sim. Eu disse: ‘Não admito sequer receber esse documento’”, relatou o militar, que deixou a sala logo em seguida.

Baptista Jr. reforçou que havia um “ponto de corte” para ele: “No dia 1º de janeiro toma posse o presidente que já tinha sido diplomado. Era processo democrático”, afirmou.

Pressão, plano de GLO e risco de prisão

Durante o depoimento, o brigadeiro também confirmou que houve pressão de Bolsonaro para que as Forças Armadas não divulgassem o relatório sobre as urnas eletrônicas.

Ele contou que o próprio presidente entregou um documento com supostos erros no sistema, mas as Forças descartaram qualquer fraude.

Ainda segundo o ex-comandante, a ideia de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) começou a mudar de tom após o dia 11 de novembro, levantando suspeitas de que não se tratava de manter a ordem, mas de contestar o resultado da eleição.

“O desconforto era meu, de Paulo Sérgio e do general Freire Gomes”, disse.

O procurador-geral da República, Paulo Gonet, perguntou se já se havia cogitado prender autoridades.

Baptista Jr. respondeu que sim, citando o ministro Alexandre de Moraes como alvo das discussões. Ele também confirmou que o general Freire Gomes chegou a dizer que poderia prender Bolsonaro, caso Bolsonaro adotasse medidas inconstitucionais.

Já o almirante Garnier, segundo o brigadeiro, se mostrava alinhado com Bolsonaro. “Disse que as tropas estariam à disposição do presidente”, revelou.

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Sem fraude nas urnas

O ex-comandante reafirmou que a equipe técnica das Forças Armadas analisou e rejeitou todas as denúncias de fraude.

Mesmo assim, Bolsonaro insistia na narrativa, usando relatórios como o do Instituto Voto Legal para levantar suspeitas.

Baptista Jr. também relatou ter avisado pessoalmente ao presidente: “Aconteça o que acontecer, dia 1º de janeiro o senhor não será presidente”.

Em tom final, declarou: “Mantenho minha palavra: com toda a educação, ele disse poderia chegar a prendê-lo [referindo-se a Bolsonaro]”.

O depoimento complica ainda mais a situação de Bolsonaro e de integrantes do alto comando militar no inquérito sobre tentativa de golpe.

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Foto: Isac Nóbrega/PR