Escândalo da ‘Abin paralela’ de Bolsonaro usou soft espião de Israel
Filho de Bolsonaro operava "gabinete do ódio" de dentro do Planalto, com uso clandestino da estrutura de inteligência do Estado.

Adrissia Pinheiro, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 19/06/2025 às 19:03 | Atualizado em: 19/06/2025 às 19:04
A Polícia Federal indiciou nesta semana o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência e deputado federal réu no plano de golpe Alexandre Ramagem (PL-RJ), no inquérito que apura a existência de uma estrutura clandestina de espionagem dentro da Abin, durante o governo Bolsonaro.
Conhecido como escândalo da “Abin paralela”, o esquema teria servido para vigiar ilegalmente autoridades públicas, jornalistas e adversários políticos com objetivos eleitorais e de sustentação do poder.
Os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luiz Roberto Barroso eram alvos principais.
Segundo o relatório da PF, os investigados usaram um sistema israelense de espionagem, o FirstMile, para monitorar, sem autorização judicial, dados de localização de celulares de centenas de pessoas.
As informações coletadas eram direcionadas ao chamado “núcleo político” do governo, com forte influência do chamado “gabinete do ódio”, que operava a partir do entorno de Carlos Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Alexandre Ramagem, hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio, foi indiciado por crimes como peculato-desvio, interceptação ilegal de comunicações, corrupção passiva, violação de sigilo funcional e prevaricação.
Ramagem também é próximo da família Bolsonaro e foi apontado como nome de confiança para assumir a Polícia Federal, o que acabou vetado pelo Supremo.
Já Carlos Bolsonaro foi enquadrado por organização criminosa, tendo supostamente utilizado as informações obtidas pela Abin para alimentar campanhas de desinformação e atacar opositores nas redes sociais, prática recorrente do bolsonarismo digital.
O relatório foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e será analisado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), responsável por decidir se apresenta denúncia formal ou solicita novas diligências.
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Benefício de Bolsonaro
Bolsonaro, embora citado no inquérito como beneficiário do esquema, não foi indiciado neste momento.
Bolsonaro não foi indiciado nesse inquérito porque já responde por acusações semelhantes na ação da tentativa de golpe, onde é réu e apontado pela Polícia Federal como chefe da organização criminosa.
A investigação também atinge a atual direção da Abin, sob o governo Lula. O diretor Luiz Fernando Corrêa e outros servidores foram acusados de tentar obstruir as investigações, ao dificultar o acesso da PF a documentos e desacreditar a atuação da ex-corregedora do órgão.
Com 36 indiciados, o escândalo da Abin paralela expõe os riscos do uso político de estruturas de Estado e pode afetar diretamente as pretensões eleitorais de aliados de Bolsonaro nas eleições municipais deste ano, especialmente no Rio de Janeiro, onde Ramagem e Carlos Bolsonaro disputam espaço com Marcelo Crivella e outros nomes da direita.
Foto: Alan Santos/PR