Drama da seca no Amazonas ameaça vida e pode se alongar a 2024
Reportagem mostra situações dramáticas vividas pelos moradores e produtores no interior do estado.

Ednilson Maciel, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 05/10/2023 às 14:24 | Atualizado em: 05/10/2023 às 17:30
O drama da seca se repete no Amazonas, onde uma estiagem generalizada baixa drasticamente o nível dos rios. Com isso ameça a vida e pode se alongar até 2024.
Dessa forma, por exemplo, ameaça comprometer a pesca e a agricultura sustentáveis na maior bacia hidrográfica do mundo, a do rio Amazonas.
Esse cenário é o que aponta a reportagem do Brasil de Fato, de Murilo Pajolla.
Segundo ele, portanto, o fenômeno, que pode durar até o início de 2024, atinge centenas de comunidades.
Nelas, os moradores perderam o acesso a lagos onde peixes como o pirarucu e o tambaqui são manejados de forma sustentável, com plano de manejo, sem esgotar os recursos naturais.
Conforme a publicação, na comunidade Monte das Oliveiras, no município de Fonte Boa (AM), 16 famílias estão praticamente ilhadas.
O morador Tomé Coelho dos Santos afirmou ao Brasil de Fato que fechou as portas de seu minimercado na comunidade, pois já não é mais possível trazer produtos da área urbana.
Está difícil o acesso para a cidade. As pessoas da comunidade estão sofrendo consequências devido a que não tem como comprar alimentação agora. Quando vai uma pessoa, a canoa é pequena. Agora só dá para agora andar de canoa aqui, relata o morador da comunidade Monte das Oliveiras.
Além dele, Milcy Cordeiro de Carvalho, 53 anos, disse que nunca viveu situação parecida. Ela preside um acordo de pesca sustentável no município de Maraã (AM) que sustenta 135 famílias sem provocar desequilíbrio ambiental. O pirarucu, principal fonte de renda das comunidades, está inacessível.
“Está prejudicando porque tudo está muito seco. Fechou a área de transporte onde fica o pirarucu que a gente vai capturar. Não tem como retirar ele agora no momento. Agora é esperar a água subir”, diz a líder comunitária.
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Mortes de peixes e deslizamentos
Além disso, de acordo com a reportagem, os relatos de isolamento e desabastecimento de alimentos se somam às imagens catastróficas produzidas nos últimos dias.
Uma comunidade ribeirinha a 170 quilômetros de Manaus foi engolida por uma cratera, depois que um barranco desabou. Duas pessoas morreram e outras 300 foram afetadas diretamente.
Também perto da capital amazonense, milhares de peixes apareceram mortos na superfície do Lago do Piranha, e moradores relataram que a água ficou imprópria para consumo.
No lago Tefé, a 500 km de Manaus, já passa de 120 o número de botos encontrados mortos, depois que a água chegou aos 40 graus, um recorde de temperatura.
“A primeira consequência é a escassez de produtos”, explica o pesquisador do Instituto Mamirauá em Tefé (AM), Ayan Fleischmann.
“Porque algumas dessas grandes embarcações não conseguem mais navegar no Solimões. Além da escassez, isso causa a elevação do preço de vários bens de consumo”.
O rio Solimões, que é a parte superior do rio Amazonas – o maior rio do mundo – está secando. Grandes embarcações, que levam alimentos da capital para o interior, já não conseguem navegar.
O município de Tefé (AM), um grande centro urbano em uma das áreas mais preservadas da Amazônia, atrai ribeirinhos e indígenas em busca de serviços de saúde, bancários e de educação.
A população não está conseguindo acessar esses serviços. As crianças já não estão indo para a aula há tanto tempo, não estamos conseguindo comprar alimentação como queríamos, descreve o pesquisador do Instituto Mamirauá.
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Seca está só no começo
Murilo Pajolla também destaca que especialistas afirmam que a seca e o calor intensossão causados pela combinação de dois fatores: o El Niño, um fenômeno climático natural que aquece as águas do oceano Pacífico, e o aquecimento global, provocado pela ação humana.
Tem uma probabilidade altíssima desse El Niño continuar nos próximos meses e até para o próximo ano. Isso indica que agora ele está ganhando força e que os efeitos que normalmente acontecem quando estamos vivendo o El Niño podem piorar. Então a tendência é que a seca piore na Amazônia, diz Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
“No Amazonas, a maior seca já registrada foi em 2010, quando havia a mesma configuração climática. O Atlântico tropical norte muito quente e parte do Pacífico e do Atlântico muito aquecidos estão gerando essa catástrofe”, explica Ayan Fleischmann, do Instituto Mamirauá.
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Foto: Ednilson Maciel/BNC Amazonas