Direita está cada vez mais polarizada, diz estudo da USP

O movimento mais uma vez foi constatado no último ato em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Direita está cada vez mais polarizada, diz estudo da USP

Ednilson Maciel, da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 03/03/2024 às 19:45 | Atualizado em: 03/03/2024 às 19:45

Pesquisadores e estudantes da Universidade de São Paulo (USP) indicam que as manifestações da direita nas ruas estão cada vez mais à direita.

Segundo a reportagem divulgada pela Agência Brasil, os pesquisadores investigam há 10 anos a polarização política no Brasil.

Desse modo, o movimento mais uma vez foi constatado no último ato em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele é investigado por suspeita de articular um golpe de Estado no país.

Para esse estudo, o Grupo de Políticas Públicas para o Acesso à Informação (GPoPAI) da USP criou o Monitor do Debate Político no Meio Digital.

Sobretudo, com acadêmicos de várias áreas de conhecimento – de alunos de mestrado da Matemática à História, passando por Letras e Comunicação Social. 

O grupo já aplicou cerca de 50 pesquisas. A última delas foi realizada durante a manifestação do domingo passado (25) na Avenida Paulista, convocada pelo ex-presidente.

De acordo com os pesquisadores, o ato teve a maior adesão desde o final de 2015, e indica um aumento no número de pessoas que se declaram com “orgulho de ser de direita”.

Por exemplo, em atos públicos considerados do espectro político de direita, o que estaria relacionado com o fenômeno do bolsonarismo.

Nove de cada dez pessoas entrevistadas na manifestação do dia 25 se consideram “de direita” e mais de 95% se disse conservador – 78% “muito conservador” e 18% “um pouco conservador.

“Isso é novo”, aponta o professor Marcio Moretto, um dos coordenadores do GPoPAI, comparando, por exemplo, com a manifestação de 26 março de 2017.

Na ocasião, o ato foi em favor da Operação Lava Jato e ocorrida na mesma Avenida Paulista. No levantamento daquele dia, “49% das pessoas se identificaram como ‘de direita’ ou ‘centro direita’.”

Em 7 de setembro de 2022, uma pesquisa semelhante há havia constatado aumento dos que se consideram de direita para 83%.

Como resultado, um avanço de mais de 30 pontos percentuais em relação ao ato pró Lava Jato de 2017.

Em 26 de novembro de 2023, outro ato de direita na Paulista teve 92% da amostra declarando ser de direita. No domingo passado o patamar de 92% se manteve mesmo com uma presença de manifestantes bem maior.

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Então, se a definição no espectro político e ideológico está clara, o professor avalia que a auto identificação como “conservador” não é exata.

“Ao pé da letra, o conservador quer retardar mudanças que o progressista quer acelerar”.

Na opinião de Moretto, os participantes da manifestação do último domingo “querem uma espécie de revolução para trás.

Querem resgatar valores que ficaram no passado. O bolsonarismo não é exatamente conservador, ele é mais reacionário.”

Além das nuances entre os atos políticos, o coordenador do GPoPAI percebe reiterações simbólicas com outros eventos.

Moretto lembra que, como aconteceu em edições passadas da Marcha para Jesus, no último domingo muitos manifestantes (e políticos) empunhavam bandeiras de Israel.

“Me parece que isso tem a ver com uma compreensão dos evangélicos sobre as terras do lugar onde fica Israel, ser uma Terra Prometida.

Para eles, portanto, Bolsonaro representa o que chamam de cultura judaico-cristã”, avalia o coordenador.

Assim como, vinte e nove por cento dos presentes no domingo se identificavam como “evangélicos”, proporção abaixo dos declarados “católicos” (43%).

Além disso, Moretto acrescenta que, fora as motivações religiosas, “também tem um esforço do Estado de Israel de fomentar isso, e se aproximar dos evangélicos como uma força de apoio”, lembra, considerando o conflito em Gaza.

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Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil