Empresário fraudou R$ 180 milhões em créditos de carbono

Ricardo Stoppe Junior, preso pela PF, é acusado de liderar um esquema de fraudes em créditos de carbono no Amazonas.

Diamantino Junior

Publicado em: 02/07/2024 às 09:00 | Atualizado em: 02/07/2024 às 09:00

Ricardo Stoppe Junior, preso preventivamente desde o início de junho, é apontado pela Polícia Federal (PF) como líder de um esquema de fraudes na comercialização de R$ 180 milhões em créditos de carbono. Segundo a investigação, o empresário utilizava terras da União griladas no Amazonas como lastro, com a ajuda de funcionários públicos federais e estaduais. Conversas interceptadas pela PF revelam supostos pagamentos de propina para facilitar a grilagem de terras e a falsificação de dados em cartórios.

De acordo com a PF, Stoppe Junior, que foi “um dos protagonistas” da COP 28 em Dubai, em dezembro de 2023, liderava um grupo que se apropriava ilegalmente de terrenos na Amazônia, totalizando 537 mil hectares, equivalentes ao território do Distrito Federal. Essas áreas eram usadas para gerar lucro com a venda de créditos de carbono, pagos por empresas privadas pelas emissões que deixam de ser lançadas.

A investigação identificou supostos pagamentos ilícitos a pelo menos dez servidores públicos do Incra, do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) e da Secretaria de Estado das Cidades e Territórios do governo do Amazonas. Essas informações constam em um relatório da PF, obtido pelo GLOBO.

Em nota, o Incra afirmou que está auxiliando as investigações e que os resultados das apurações irão fundamentar medidas administrativas cabíveis. O governo do Amazonas, por sua vez, afirmou que não compactua com desvios de conduta e que as pessoas citadas não fazem mais parte da administração estadual. A defesa de Stoppe não quis se manifestar, enquanto o grupo do qual ele é sócio afirmou que os créditos de carbono “sempre foram certificados pelo mercado por manterem a qualidade e integridade esperadas”.

Entre os envolvidos, destaca-se um ex-superintendente do Incra do Amazonas, que teria chegado ao posto por influência de Stoppe. Em outubro de 2022, interceptações telefônicas captaram o empresário falando sobre um “combinado” com o superintendente, referindo-se a pagamentos de propina.

Outro servidor do Incra, responsável pela área de certificação, é apontado como peça fundamental para a organização criminosa, emitindo documentos fundiários fraudulentos. Stoppe foi flagrado em áudios solicitando mais dinheiro para “Carlão”, um servidor do Incra que recebia os valores por meio de uma empresa de fachada.

No governo do Amazonas, dois ex-secretários e três ex-servidores da Secretaria de Estado das Cidades e Territórios são investigados por montar um “balcão de negócios” no órgão. Um dos ex-secretários teria recebido R$ 200 mil para liberar documentos ao grupo.

A PF estimou que os danos ambientais provocados pelo grupo somam R$ 606 milhões. Além da grilagem, o grupo utilizava as propriedades para “lavagem de madeira”, emitindo documentos para comercializar legalmente toras retiradas de áreas proibidas, como reservas indígenas.

Em conversas interceptadas, Stoppe mencionou pagamentos ao Incra, Ipaam e outras instituições, demonstrando a extensão da corrupção. A Justiça Federal do Amazonas, ao autorizar sua prisão, destacou a necessidade de interromper essas atividades criminosas.

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Foto: TV Brasil