‘Nem porco come’, dizem abrigados de comida distribuída no RS
A Ulbra em Canoas abriga milhares de desabrigados das enchentes no Rio Grande do Sul, enfrentando críticas pela baixa qualidade das refeições fornecidas.

Diamantino Junior
Publicado em: 21/05/2024 às 21:57 | Atualizado em: 21/05/2024 às 21:57
As enchentes no Rio Grande do Sul resultaram em grandes desafios para milhares de pessoas desalojadas, muitas das quais buscaram abrigo na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. A qualidade das refeições oferecidas no abrigo tem sido motivo de queixas por parte dos abrigados.
Carolina Freitas, uma ex-auxiliar de cozinha de 30 anos, descreveu a comida como “gelada e azeda”, destacando que nem porcos a comeriam. Ela e sua família, juntamente com outras 6.500 pessoas, estão alojadas na Ulbra.
Durante uma visita de 30 minutos ao abrigo, a equipe do UOL ouviu reclamações de mais quatro pessoas sobre a comida.
Duas mães relataram que seus filhos passaram mal após consumir os alimentos fornecidos. A Ulbra serve quatro refeições diárias, mas muitas vezes a comida chega estragada ou fria, segundo relatos dos abrigados.
A universidade respondeu às críticas com uma nota, afirmando que “problemas pontuais existem e são sanados tão logo chegam ao conhecimento da instituição”.
Eles destacaram que estão empenhados em fornecer um refúgio seguro para a comunidade afetada.
Carolina Freitas, que está no abrigo desde o início de maio com sua família, contou que muitos jogam fora a comida servida e são desmotivados a reclamar.
Um voluntário relatou que testou a qualidade das refeições e descobriu que 22 das 24 marmitas marcadas por ele no almoço foram reutilizadas para o jantar.
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Outro abrigado, Jackson Train, de 23 anos, caminhou duas horas e meia até o abrigo com sua família. Ele relatou que a comida frequentemente chega estragada ou gelada. Confusões têm ocorrido no abrigo devido à baixa qualidade dos alimentos, causando mal-estar entre os abrigados.
Sônia Ramos, mãe de três filhos, disse que sua filha precisou de cuidados médicos após passar mal por consumir a comida do abrigo. Outros abrigados decidiram não consumir mais as refeições fornecidas, preferindo jogá-las fora para evitar que fossem redistribuídas.
A Ulbra afirmou que oferece cerca de 30 mil refeições diárias, enviadas por voluntários e empresas parceiras. A instituição também distribui água potável, produtos de higiene, roupas, colchões, agasalhos, cobertores e fraldas. Além disso, disponibiliza assistência jurídica, apoio psicológico e cuidados médicos 24 horas.
O campus da Ulbra também acolheu mais de mil animais, incluindo o cavalo Caramelo, símbolo da resiliência gaúcha. As atividades dos campi de Canoas, Guaíba e São Jerônimo foram ajustadas devido às enchentes, com aulas retornando de forma remota.
Leia a nota enviada pela Ulbra
A Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) acolheu de maneira voluntária em seu campus, em Canoas (RS), mais de 8 mil pessoas que perderam suas casas e todos os seus pertences em função da catástrofe climática que assolou os gaúchos, transformando-se no maior abrigo do Rio Grande do Sul e um dos maiores que se tem notícia na história do Brasil. Diante deste cenário, é papel constitucional do poder público abrigar e alimentar esses milhares de desabrigados, e não de uma entidade privada. A Ulbra acolheu essas famílias em nome da solidariedade com o povo gaúcho. Mas, reiteramos, é do Estado a responsabilidade de garantir a alimentação dessas pessoas neste momento de dificuldades. Diante da impossibilidade de o poder público garantir essa assistência, a Ulbra tem distribuído as refeições que chegam até sua central de doações, vindas de grupos de voluntários que formaram neste momento uma corrente de solidariedade a fim de também suprir as deficiências do Estado.
Desde o dia 3 de maio, a Ulbra faz um trabalho voluntário de acolhimento dessas pessoas, fazendo a distribuição dos donativos enviados por toda a sociedade brasileira, em um esforço e uma corrente de solidariedade inéditos. São oferecidas quatro refeições diárias, totalizando cerca de 30 mil refeições, todas elas enviadas por voluntários e empresas parceiras e distribuídas pela Ulbra.
Além da distribuição da alimentação para os 8 mil desalojados, a Ulbra distribui água potável, produtos de higiene pessoal, roupas, colchões, agasalhos, cobertores e fraldas, entre outros produtos, além de disponibilizar, com a ajuda dos órgãos públicos, entidades, estudantes e professores, médicos e enfermeiros 24 horas, ambulância, medicamentos e segurança pública. Também oferece assistência jurídica para a confecção de documentos, amparo psicológico e cuidado com idosos, enfermos e crianças.
A Ulbra também acolheu neste período mais de mil animais, entre cães, gatos e equinos, que foram tratados no Hospital Veterinário da Ulbra, entre eles o animal que se tornou símbolo da resiliência do povo gaúcho diante desta tragédia, o Cavalo Caramelo.
Diante deste quadro extraordinário, problemas pontuais existem e são sanados tão logo chegam ao conhecimento da instituição, que não tem medido esforços para acolher a comunidade de Canoas e arredores que busca na instituição um refúgio seguro neste momento de tragédia e dor.
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Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil