Ascensão e desafios: o Brasil e o retorno da classe média
País volta ao patamar impulsionado pelo emprego, mas desafios estruturais persistem.

Diamantino Junior
Publicado em: 05/01/2025 às 16:05 | Atualizado em: 05/01/2025 às 16:05
A ascensão econômica de parte significativa da população brasileira em 2024 sinaliza uma reconfiguração no perfil socioeconômico do país. Dados da Tendências Consultoria indicam que mais da metade dos domicílios brasileiros (50,1%) passaram a integrar as classes C, B e A, marcando o retorno do Brasil ao status de país de classe média, um feito que não ocorria desde 2015.
Impulsionada pelo emprego
A melhora no mercado de trabalho foi o principal motor dessa mobilidade social. A taxa de desemprego caiu para 6,1% em novembro de 2024, o menor patamar histórico, enquanto o nível de ocupação atingiu 58,8%. O aumento real do salário mínimo em 2023 e 2024 também contribuiu para elevar a massa salarial, beneficiando sobretudo as classes C e B.
Na classe C, com renda domiciliar entre R$ 3,5 mil e R$ 8,1 mil, os ganhos cresceram 9,5% em 2024, acima da média nacional de 7%.
Já na classe B, com rendimentos de até R$ 25 mil, o avanço foi de 8,7%. Esses números refletem o impacto positivo da retomada econômica no pós-pandemia, com destaque para setores que oferecem empregos formais e salários mais estáveis.
Desafios estruturais permanecem
Embora os dados revelem uma queda na desigualdade em 2024, especialistas alertam para os limites da mobilidade social no Brasil.
A alta informalidade, desigualdade salarial entre setores e baixa qualidade educacional impedem avanços mais sustentáveis.
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Desigualdade persiste como grande mazela nacional
O economista Paulo Tafner aponta que, apesar do aumento da escolaridade, o acúmulo de capital humano – essencial para ganhos estruturais de renda – ainda não ocorreu de forma significativa.
Além disso, o cenário de juros elevados e inflação persistente tende a ampliar as disparidades. Enquanto as classes A e B podem se beneficiar de rendimentos em aplicações financeiras, os grupos mais pobres sofrem mais intensamente com o impacto dos preços altos.
Uma mudança com ressalvas
A conquista de 2024 reflete um ciclo de expansão econômica, mas a sustentabilidade dessa mobilidade dependerá de reformas estruturais, como investimentos em educação e produtividade. Sem esses avanços, a manutenção e ampliação da classe média brasileira enfrentarão barreiras no médio e longo prazo.
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Foto: Banco de imagens