Plano do golpe de Bolsonaro ia pôr Braga Netto na pasta da Defesa
PF detalha tentativa de golpe liderada por Braga Netto e beneficiando Bolsonaro, frustrada pela recusa de militares em apoiar ações antidemocráticas.

Diamantino Junior
Publicado em: 25/11/2024 às 16:12 | Atualizado em: 26/11/2024 às 10:22
Documentos e áudios obtidos pela Polícia Federal (PF) revelam detalhes do planejamento de um golpe de Estado envolvendo figuras próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), incluindo o general da reserva Mário Fernandes e o ex-ministro da Defesa Braga Netto. As investigações apontam que, após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, o grupo articulava ações antidemocráticas para manter o então presidente no poder.
Áudios expõem estratégia
Em uma conversa gravada no dia 10 de novembro de 2022, Mário Fernandes discute com Marcelo Câmara, então assessor de Bolsonaro, a possibilidade de trocar o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, pelo general Braga Netto. “General Braga Netto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo”, afirmou Fernandes. Na gravação, ele também admite a possibilidade de alegações de golpe, mas justifica que “qualquer solução (…) não vai acontecer sem quebrar ovos”.
A troca do comando do Ministério da Defesa era vista como essencial para viabilizar o golpe, mas, segundo a PF, encontrou resistência dos comandantes militares. Tanto o general Freire Gomes, do Exército, quanto o brigadeiro Baptista Júnior, da Aeronáutica, recusaram-se a apoiar qualquer ação golpista, freando as intenções do grupo.
Braga Netto como líder do plano
Para os investigadores, o general Braga Netto foi o principal articulador da tentativa de golpe.
Ele teria elaborado estratégias para garantir que Bolsonaro permanecesse no poder mesmo após a derrota nas urnas.
A PF considera Braga Netto a “cabeça pensante” do esquema, com Bolsonaro como beneficiário direto. Ambos foram indiciados pelos crimes de golpe de estado, abolição violenta do estado de direito e organização criminosa.
Articulações nos QGs
Mário Fernandes, além de seu papel no planejamento, manteve contato com acampamentos golpistas em frente a quartéis-generais militares. Em outro áudio obtido pela PF, ele expressa frustração com o fracasso do plano, pedindo que Bolsonaro pelo menos demonstrasse “coragem moral” antes de desistir das ações.
Rejeição militar
Os depoimentos dos militares reforçam que a tentativa não se concretizou por falta de adesão das Forças Armadas.
O general Freire Gomes, consultado sobre uma minuta de decreto golpista, afirmou que o Exército não participaria de ações antidemocráticas e alertou Bolsonaro sobre as consequências legais.
Braga Netto, que integrou o núcleo militar do governo Bolsonaro desde 2020, deixou o Ministério da Defesa em abril de 2022 para disputar as eleições como vice-presidente na chapa do ex-presidente.
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Seu papel na articulação do golpe, no entanto, veio à tona durante as investigações que buscam identificar todos os envolvidos no plano antidemocrático.
As revelações da PF indicam uma rede complexa de articulação, cuja execução só não avançou devido à resistência interna e ao enfraquecimento político de Bolsonaro após sua derrota nas urnas.
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