Bolsonaro teme avanço de novas lideranças na direita
Ex-presidente tenta reafirmar sua liderança na direita brasileira para 2026, apesar de enfrentar desafios políticos e novas lideranças emergentes.

Diamantino Junior
Publicado em: 09/11/2024 às 19:35 | Atualizado em: 09/11/2024 às 19:35
O ex-presidente Jair Bolsonaro, em suas mais recentes declarações, dadas ao jornal Folha de S.Paulo, reafirma seu posto como líder incontestável da direita no Brasil. Segundo ele, não há sucessores ou nomes viáveis no campo político conservador que possam desafiá-lo na disputa presidencial de 2026.
A fala, no entanto, levanta uma série de questionamentos sobre o cenário atual da direita brasileira e a viabilidade real de Bolsonaro continuar sendo o centro dessa corrente política, especialmente após duas condenações por inelegibilidade até 2030.
A postura de Bolsonaro em desautorizar nomes como o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, seu ex-ministro da Infraestrutura, reflete um esforço claro de manter-se como a principal referência da direita.
Ao afirmar que Tarcísio é um “líder maior” apenas no âmbito estadual, Bolsonaro limita a projeção nacional de seu ex-aliado, buscando neutralizar qualquer possibilidade de surgimento de uma nova liderança que possa substituir sua figura.
Contudo, ao fazer isso, ele também se expõe à crítica de estar mais preocupado em preservar sua relevância pessoal do que em contribuir para o fortalecimento da direita de maneira ampla e plural.
A insistência de Bolsonaro em se colocar como único líder “incontestável” ocorre em um contexto no qual sua influência como cabo eleitoral foi desafiada, especialmente nas eleições municipais de 2024.
O desempenho de candidatos apoiados por ele, como Fred Rodrigues em Goiânia e Ricardo Nunes em São Paulo, levantou dúvidas sobre a capacidade do ex-presidente de transferir votos e garantir vitórias.
Nomes como Pablo Marçal, que obteve destaque nas eleições paulistas, e Sandro Mabel, vencedor em Goiânia, mostram que há espaços sendo ocupados por lideranças conservadoras fora do círculo bolsonarista.
Além disso, a entrada de novos nomes no cenário político, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, sinaliza que a direita brasileira já começa a se diversificar.
Caiado, por exemplo, tem conquistado projeção nacional com uma postura mais moderada, enquanto Zema, associado ao Partido Novo, desponta como uma opção para setores empresariais e conservadores.
Ambos, junto com Tarcísio, têm capital político e a possibilidade de expandir suas influências para além de suas bases regionais.
Condenações
O maior obstáculo para Bolsonaro é, sem dúvida, sua inelegibilidade até 2030, fruto das condenações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mesmo que aposte em uma possível anistia do Congresso para disputar novamente, essa é uma aposta arriscada.
Até que haja uma reversão concreta, o ex-presidente está fora da corrida presidencial, e seu espaço como líder da direita corre o risco de ser ocupado por figuras que, hoje, aguardam o momento certo para avançar.
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O discurso de Bolsonaro de que a direita não tem “dono, mas tem um líder” é mais uma estratégia de reafirmação de sua liderança do que uma constatação da realidade política.
A própria evolução do campo conservador no Brasil indica que novas lideranças podem emergir com maior aceitação popular, principalmente em um cenário onde o eleitorado busca alternativas após o desgaste gerado pelos conflitos e polêmicas que marcaram o governo bolsonarista.
Em suma, Bolsonaro continua sendo uma figura de peso dentro da direita brasileira, mas a noção de que sua liderança é incontestável ignora o movimento natural de renovação dentro de qualquer corrente política.
A questão que permanece é: até que ponto essa insistência em centralizar a direita em torno de seu nome pode fortalecer ou enfraquecer o campo conservador para 2026?
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Foto: divulgação