Bolsonaro mentiu sobre Piquet guardar joias que desviou para EUA
PF indiciou Bolsonaro e aliados por desvio de joias sauditas. Ex-presidente mentiu sobre paradeiro dos itens, enviados aos EUA para leilão.

Diamantino Junior
Publicado em: 09/07/2024 às 19:27 | Atualizado em: 09/07/2024 às 19:27
A Polícia Federal (PF) indiciou Jair Bolsonaro e mais 11 aliados por envolvimento em um esquema de desvio e leilão de joias recebidas como presente do governo da Arábia Saudita. O relatório da PF aponta que o ex-presidente mentiu sobre o paradeiro dos itens, que foram levados aos Estados Unidos para serem leiloados, contradizendo suas declarações de que as joias estavam armazenadas no Brasil.
O objetivo era acobertar o envio dos itens de luxo para os Estados Unidos com o intuito de leiloá-los. Em depoimento no dia 5 de abril de 2023, em Brasília, Bolsonaro declarou nunca ter ficado em posse das joias e que, ao deixar o Brasil no final de seu mandato, não levou os itens para os EUA.
Esquema de Envio das Joias
Bolsonaro alegou que o kit da grife Chopard foi encaminhado ao seu acervo presidencial armazenado na fazenda do ex-piloto de F1 Nelson Piquet, mas a PF comprovou que o kit foi levado para a Flórida a bordo do avião presidencial. Em solo americano, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid levou os itens à sede da Fortuna Action House, empresa de leilões em Nova York. As joias foram submetidas a leilão em fevereiro de 2022, mas não foram arrematadas.
Desvio e Recuperação dos Itens
O kit foi desviado do acervo presidencial com a ajuda do então chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República, Marcelo Vieira. Os itens entraram no Brasil sem sobressaltos, diferente de outro kit feminino da Chopard, que foi apreendido pela Receita Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos em outubro de 2021.
Operação Clandestina
Após a divulgação da existência do segundo kit e a determinação do Tribunal de Contas da União (TCU) para que fossem devolvidas ao poder público, Bolsonaro e aliados orquestraram uma “operação clandestina” para recuperar as joias nos Estados Unidos. O plano, detalhado no relatório, visava não levantar suspeitas de que os bens estavam no exterior. Mauro Cid pessoalmente recuperou as joias e as levou para a Flórida, onde Bolsonaro se instalou após deixar o Brasil.
Conversas Reveladoras
Diálogos no WhatsApp entre Mauro Cid e o coronel da reserva Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, mostraram que a dupla tinha ciência da irregularidade das transações envolvendo as joias. Em um áudio de 13 de fevereiro de 2023, Câmara relatou uma conversa com Marcelo Vieira sobre a necessidade de notificação para leiloar os bens no exterior. “Para não gerar problema, melhor voltar. E aí, em uma outra oportunidade, pode leiloar, mas só que no Brasil mesmo”, disse Câmara.
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Correção dos Valores Desviados
Inicialmente, o valor dos bens desviados foi estimado em R$ 25 milhões, mas após correção, a PF informou que o esquema desviou bens que somam R$ 6,8 milhões. Em nota, a defesa de Bolsonaro afirmou que o ex-presidente “em momento algum pretendeu se locupletar ou ter para si bens” que pudessem ser considerados públicos e manifestou indignação com as acusações.
O caso, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) sob a relatoria de Alexandre de Moraes, continua a gerar repercussões e destaca a complexidade e gravidade das acusações contra Bolsonaro e seus aliados.
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Foto: @jorginho mello via Fotos Públicas