Abin: dólares na casa de ex-diretor podem ser de verba sigilosa

PF investiga se dinheiro encontrado na casa de ex-diretor da Abin tem ligação com desvio de verba sigilosa. Caso envolve o ex-diretor-geral Alexandre Ramagem e levanta suspeitas sobre uso ilegal da agência.

(Abin)

Diamantino Junior

Publicado em: 09/03/2024 às 10:48 | Atualizado em: 09/03/2024 às 10:50

A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a “Abin paralela” encontrou US$ 172 mil em espécie na casa do ex-número 3 da agência, Paulo Maurício Fortunato. A PF agora investiga se esse dinheiro tem ligação com o direcionamento atípico de verba sigilosa para o gabinete do ex-diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem (PL-RJ).

O que foi encontrado

Em outubro, a PF encontrou US$ 172 mil na casa de Fortunato, então secretário de planejamento de gestão da Abin.

O dinheiro estava em notas de US$ 50 e US$ 100, todas em bom estado de conservação e divididas em blocos de séries distintas.

Segundo a PF, seria difícil para uma pessoa comum obter essa quantidade de dinheiro em espécie, mas é possível para instituições.

Possível ligação com verba sigilosa

Um relatório da PF, datado de novembro, levanta a hipótese de que o dinheiro tenha sido desviado da verba sigilosa da Abin.

A verba sigilosa é usada para operações de inteligência e seu uso é restrito e controlado.

O relatório aponta que, até o momento, não há referência da origem dos dólares encontrados na casa de Fortunato.

A PF também destaca o depoimento de Rodrigo Colli, ex-servidor da Abin. Ele afirma que em 2021 houve um direcionamento atípico de verba sigilosa para o gabinete de Ramagem.

Colli afirma que essa verba era usada por meio de cartões e que os valores eram sacados em espécie.

Em troca de mensagens, Fortunato diz que a maior parte da verba sigilosa do gabinete de Ramagem era usada em viagens internacionais do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O que dizem os envolvidos

Ramagem não respondeu às perguntas da PF sobre o caso.

Em entrevista, ele negou qualquer relação com softwares de espionagem da Abin e disse não ter acesso às investigações.

Fortunato não quis se manifestar.

Investigações em andamento

A PF continua investigando o caso e pediu o afastamento de Ramagem do cargo de deputado federal.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, ainda não decidiu sobre o pedido.

A Abin está no foco do inquérito da PF desde março de 2022, sob suspeita de ter sido usada para bisbilhotar ilegalmente adversários de Bolsonaro.

As investigações apuram a existência de uma estrutura paralela na Abin para rastrear adversários políticos.

O software FirstMile, usado pela Abin entre 2019 e 2021, é um dos focos das investigações.

O FirstMile é capaz de dar a localização aproximada de uma pessoa por meio das ondas da telefonia celular.

Além de Ramagem, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente, também é alvo de investigação.

Entenda as investigações

Uso ilegal da agência: a PF apura a existência de uma estrutura paralela na Abin para rastrear adversários políticos de Jair Bolsonaro (PL).

FirstMile: é um software de monitoramento usado pela Abin entre 2019 e 2021; ele acessava dados de geolocalização dos rastreados, e não podia interceptar ligações.

Alvos: alguns dos investigados são Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da agência, e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).

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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil