Stédile indicou o caminho

Stédile declarou: “para que haja desenvolvimento é preciso haver a reunião de três fatores: ciência, povo organizado e Estado

Stédile indicou o caminho - Arte Gilmal

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*

Publicado em: 16/03/2024 às 00:09 | Atualizado em: 16/03/2024 às 00:09

Em discurso proferido no Campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), indicou o caminho para o desenvolvimento do Brasil. 

A fala de Stédile ocorreu por ocasião da colheita de sementes de soja não transgênicas, um projeto coordenado pelo Prof. Dr. Alberto Carmassi, da UFSCar, e cooperativas ligadas ao MST. 

Diante de uma plateia qualificada, que reuniu camponeses, estudantes, professores, diretores de agências e autarquias, bem como o próprio Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, Stédile declarou: “para que haja desenvolvimento é preciso haver a reunião de três fatores: ciência, povo organizado e Estado. 

Ciência, povo organizado e Estado

Para Stédile, se estes três fatores não estiverem operando ao mesmo tempo, e em consonância, eles acabam se anulando. Não basta ter ciência avançada se o conhecimento por ela produzido não alcançar o povo. 

Por outro lado, povo sem organização, na prática, acaba sem acesso às tecnologias que o desenvolvimento científico pode gerar. Também não tem acesso às políticas públicas fomentadas pelo Estado. Por fim, sem os investimentos públicos necessários não há desenvolvimento científico e tecnológico. Consequentemente, não se tem um Estado plenamente desenvolvido. 

Portanto, é condição sine qua non para o desenvolvimento a sinergia entre ciência, povo organizado e Estado. No evento realizado na UFSCar, segundo Stédile, estavam presentes os três fatores. Lá, havia a Ciência, representada pela Universidade, o povo organizado, representado pelo MST, e o Estado, representado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).  

Chutando a escada

No livro “Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica” (2004),o professor Ha-Joon Chang da Universidade de Cambridge, ao analisar os Países Altamente Desenvolvidos (PADs), fala da importância das políticas industrial, comercial e tecnológica para a ascensão destes países, bem como da importância das instituições, dentre elas a democracia e o Estado, para esta ascensão. 

Chang mostra, ainda, que os países em desenvolvimento têm sofrido pressões, por parte dos PADs e das políticas internacionais fomentadas e controladas pelo establishment, para que não adotem as boas práticas que outrora eles mesmos adotaram para promover seu desenvolvimento. 

Os PADs tentam, a todo custo, esconder os segredos de seus respectivos sucessos. Noutras palavras, estão “chutando a escada” por onde um dia subiram, impedindo, desta forma, que outros países alcancem o pleno desenvolvimento. 

Neste sentido, as boas práticas e boas políticas que os PADs adotaram e que lhes permitiram obter sua prosperidade econômica, social e política, perpassam, dentre outras coisas, pelo que João Pedro Stédile apontou, principalmente, no que tange ao papel fundamental do Estado no desenvolvimento científico e tecnológico. 

Neste contexto, o caminho indicado por Stédile está em consonância com os fatos históricos, econômicos e políticos que marcaram o desenvolvimento dos países ricos. Afinal, é o Estado o principal indutor do desenvolvimento. Aqui, lá e acolá. 

Concluo, afirmando que é uma falácia a ideia neoliberal de Estado mínimo. O livre mercado, na prática, nunca existiu ou existiu apenas nos discursos. O laissez-faire é discurso para os outros, nunca para as grandes economias capitalistas. Os países ricos chutaram e continuam chutando a escada por onde ascenderam.

Sociólogo

Arte: Gilmal