Diário de uma quarentena | 46º dia, 5 de maio – Que festão, Ricardo!
Infelizmente, não o veremos mais. Mas fico confortado por ter ajudado a lhe proporcionar uma noite de tanta alegria neste ano que você nos deixou

Neuton Correa, de Neuton Corrêa*
Publicado em: 05/05/2020 às 21:17 | Atualizado em: 05/05/2020 às 21:17
Hoje é terça-feira. São 19h43.
É impressionante como o novo coronavírus (Covid-19) afeta contaminados e não contaminados.
A cada dia que passa, com o aumento dos números, a sensação que tenho é de estar sendo sufocado, numa aflição sem fim.
Os dados de hoje me passaram esse mal estar. Eu já achava alto o fato do Estado ter contado, no domingo, 47 mortes e 621 casos.
O que dizer de hoje? 867 casos e 65 mortes, em 24 horas. O Estado já tem agora 8.109 casos confirmados da doença, que já matou 649.
Em Manaus, as pessoas não saem das ruas. Se não todos, mas uma grande parcela da população tem feito tudo o contrário do que os especialistas recomendam e do que outros países fizeram para reduzir a taxa de contaminação e de mortes.
Confinamento forçado
Cidades brasileiras começaram a adotar medidas severas para manter as pessoas em casa, o chamado “lockdown”.
Mas a medida do tipo que mais repercutiu no Amazonas foi tomada pelo governador do Pará.
Ele decretou confinamento forçado em dez cidades da região metropolitana de Belém.
Em Manaus, o Ministério Público do Estado (MP-AM) provocou a Justiça a obrigar a cidade a decretar lockdown na capital amazonense.
Recorde nacional, de novo
O Brasil alcançou triste recorde, de novo, na contagem do coronavírus: 600 mortes em 24 horas e 6.935 novos casos, de ontem pra cá.
O País agora tem 114.715 casos e 7.921 óbitos.
Líder disparado
Os Estados Unidos seguem o país mais contaminado pela Covid-19.
Até aqui são 1.203.502 casos confirmados e mais de 71 mil mortos.
Saudade da minha bicicleta
Hoje, aproveitei algumas horas para me afastar do computador reencontrando com minha bicicleta.
Tenho tido impulso de tirá-la da parede e dar umas pedaladas solitárias, mas não quero estimular esse comportamento em outras pessoas e induzi-las a saírem de casa.
Hoje, encontrei a solução para fazer a atividade em casa mesmo.
Amanhã, conto, porque hoje quero falar do amigo Ricardo.
Que festão, Ricardo!
Nunca tinha visto o Ricardo tão feliz como o vi em fevereiro passado.
Era outro, comparado àquela pessoa que conheci na campanha política de 2010.
Por muito tempo nos tratávamos com formalidades e no limite do essencial.
Nos últimos anos, porém, chegamos a conversar um pouco mais, trocar ideias e brincadeiras quando nos reencontrávamos.
Mas, em fevereiro, me falou de uma festa, a Noite Heineken, que iria realizar no dia 14, na casa dele.
Disse que ficaria honrado com minha presença e grato, se eu conseguisse levar o compositor Chico da Silva para sua brincadeira.
Não era só um pedido difícil de atender, mas uma missão quase impossível.
Primeiro, por mim. Não sou da noite. Segundo, pelo Chico, pessoa extremamente reservada. Imagina sair de casa dez da noite.
Me articulei com a comadre Edma e depois falei com o Chico, que também tinha amizade com o Ricardo.
O poeta aceitou, de boa.
Combinamos de nos encontrar para irmos juntos à Noite Heineken.
E foi uma noitada! Havia DJ e por lá ainda apareceram o David Assayag, o Klinger Araújo e a Vanessa Alfaia.
O Chico foi chamado a cantar e pôs em prática o resultado do tratamento fonoaudiológico que estava fazendo.
David, Klinger, Chico e Vanessa entraram pela madrugada cantando, brincando e se divertindo.
E o reservado sargento Ricardo não cabia em si de felicidade.
Meu amigo, desde ontem, acompanhei as informações de sua luta contra esse vírus.
Infelizmente, não o veremos mais. Mas fico confortado por ter ajudado a lhe proporcionar uma noite de tanta alegria neste ano que você nos deixou.
*O autor é jornalista e diretor-presidente do BNC Amazonas
Foto: Reprodução