Respostas à corrupção
Se, antes, tolerávamos políticos que "roubavam, mas faziam", hoje defendemos a drástica punição para quem pratica a improbidade administrativa

Ferreira Gabriel, por Flávio Lauria*
Publicado em: 14/07/2023 às 10:53 | Atualizado em: 14/07/2023 às 10:55
Desde seu nascimento, a corrupção persegue nossa nação. Já no primeiro documento escrito no país, a carta de Pero Vaz de Caminha – além de tecer loas à nova terra descoberta -, o autor encaminha um pedido a d. Manuel, o Venturoso, para interceder por um parente.
Embora convivendo durante meio milênio com este hábito arraigado, o povo brasileiro nunca deixou de se indignar contra a corrupção, em todas as suas formas: do jeitinho brasileiro aos milionários esquemas de sangria do erário.
A ânsia de uns em prover interesses próprios em detrimento do bem-estar de todos já está presente, também, no sermão do Bom Ladrão, do padre Antônio Vieira, quando afirma:
“Perde-se o Brasil (digamo-lo em uma palavra) porque alguns ministros de Sua Majestade não vêm cá buscar nosso bem, vêm cá buscar nossos bens”.
E quem quiser conhecer um pouco mais sobre a corrupção nos tempos do Brasil colônia pode recorrer ao clássico “Arte de furtar”, atribuído ao padre Vieira, que descreve, entre outros ardis, o caso dos soldados fantasmas.
Alguns coronéis portugueses corruptos embolsavam os cruzados da coroa, destinados ao recrutamento de soldados, preenchendo registros com nomes falsos e inexistentes.
O povo brasileiro já enfrentou muitos pântanos morais, de onde saiu limpo e redivivo, com a ética resgatada e fortalecida.
Na época do impeachment do então presidente Fernando Collor, em 1992, muitos alarmistas previam que o impedimento do chefe do Executivo levaria o país junto consigo.
Mas, pelo contrário, o pedido de impedimento encaminhado pela OAB e ABI, as manifestações dos caras-pintadas que foram às ruas, a população que externou sua indignação através do “luto” da rejeição e a imprensa – que foi até as últimas consequências do direito social à informação – propiciaram uma aula de cidadania e de fortalecimento da democracia brasileira.
Novamente, o impeachment de uma governante se apresentou à população brasileira. ilhada por um oceano de denúncias por prática de ilícitos, imputadas a chefe do Executivo evou ao impedimento de Dilma Rousseff.
Leia mais
Velho e velhice
A precariedade do ensino
Evolução na ética
Os brasileiros, ao longo dos mais de 500 anos, evoluíram eticamente.
Se, antes, tolerávamos políticos que “roubavam, mas faziam”, hoje defendemos a drástica punição para quem pratica a improbidade administrativa.
Ampliou-se nossa consciência como cidadãos, que sabem cobrar responsabilidade dos governantes.
O processo de impedimento difere do processo judicial, por implicar um julgamento de natureza política.
De acordo com ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Paulo Brossard, “o impeachment tem feição política, não se origina senão de causas políticas, objetiva resultados políticos, é instaurado sob considerações de ordem política e julgado segundo critérios políticos – julgamento que não exclui, antes supõe, é óbvio, a adoção de critérios jurídicos”.
Por ser um instituto político, propiciará respostas mais rápidas, ansiadas pela população, do que um processo jurídico.
E a abertura do processo permitirá ao prefeito promover a defesa das denúncias que lhe são imputadas.
Se inocente, sairá fortalecido com plenas condições de governabilidade.
Se culpado, será cassado, sem possibilidade de recurso.
*O autor é advogado.
Foto: Reprodução