Uma reflexão humanista sob a perspectiva do oprimido

Autor destaca o sofrimento das famílias e faz um paralelo com a luta pela liberdade de povos oprimidos, defendendo o direito de manter vivo o espírito de liberdade.

Diamantino Junior

Publicado em: 14/11/2023 às 19:19 | Atualizado em: 14/11/2023 às 19:19

Por Lúcio Carril *

Tenho duas filhas, assim como tanta gente mundo afora. Sabemos o tamanho do amor e do sentimento de proteção às nossas crianças. Todas as vezes que uma filha minha fica doente, se eu pudesse transferir o sofrimento pra mim, o faria com alegria.

Falo isto para dividir um pouco da minha tristeza com o assassinato cruel de milhares de crianças palestinas. Só um governo desgraçado, com um presidente assassino, seria capaz de matar crianças e jogar no eterno sofrimento pais e mães que sobreviverem.

Conheço pouco a cultura árabe, mas sei o suficiente para dizer que é um povo que valoriza a família. Não me refiro aos fundamentalistas religiosos, mas aos que amam seus filhos, sua mãe, seu pai, seus irmãos, sua mulher.

Imagino a dor de quem está perdendo tudo.

Nesta semana, a principal manifestação dos 32 brasileiros/palestinos resgatados de Gaza foi pedir para Lula trazer seus parentes. Lula vai trazer.

Entendo a mãe e a filha que desistiram de vir para o Brasil. Talvez eu também não viesse, se os meus continuassem lá. Os que vieram, o fizeram como todo ser humano que luta pela vida, mas os que ficaram, também, já que a vida de quem amo também é parte da minha vida.

Tenho tido a companhia das minhas palavras de protestos e das minhas lágrimas. Elas interagem nos textos que escrevo e nas imagens que vejo. Dói muito. Revolta muito.

Algumas pessoas têm falado: por que o Hamas atacou Israel se não tinha capacidade de defesa?

Respondo, num raciocínio de quem vive num país que sofreu as iniquidades da colonização: o único direito que um povo oprimido tem é o de manter vivo seu espírito de liberdade.

Os portugueses dizimaram povos indígenas inteiros, mas esses povos lutaram até o fim contra a opressão. Se o alvo não era o soldado português, poderia ser qualquer um que representasse suas maldades, sob o olhar de quem quer se libertar.

É sempre terrível a morte de gente inocente, mas não foi o oprimido que criou a guerra.

*O autor é sociólogo

Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República