Reconhecer e respeitar a existência do outro é busca civilizatória
"O homofóbico mata assim como o racista mata", diz o sociólogo Lúcio Carril em seu artigo semanal.

Ednilson Maciel, por Lúcio Carril*
Publicado em: 17/05/2023 às 08:42 | Atualizado em: 17/05/2023 às 08:46
17 de maio é o Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia.
O Brasil lidera no mundo os crimes homofóbicos.
Não por acaso, também desponta pela prática de racismo.
E assim vamos construindo nossa história de nação subjugada e reprodutora dos piores valores da humanidade.
A homofobia, assim como o racismo, é parte de uma sociedade que não procura construir uma identidade, se limitando a reproduzir valores decadentes – pelo menos no campo da compreensão crítica – que resistem ao tempo.
Por trás da homofobia há o interesse de manter uma hierarquia sexual, tão opressora quanto a misoginia e o patriarcalismo, que mesmo em campos diferenciados do conhecimento interagem para o mesmo fim.
O homofóbico mata assim como o racista mata.
Essas duas categorias da violência física e cultural ainda encontram farto apoio no meio institucional, gerando impunidade e mais violência. 70% dos crimes contra homossexuais no Brasil não são apurados e/ou punidos.
No campo cultural, a homofobia encontra guarida nas sacrossantas famílias, que se resguardam em velhas escrituras religiosas já superadas pela própria doutrina.
É no ambiente familiar que o dia a dia do preconceito se reproduz. Basta jogar a hipótese de um filho ou filha ser homossexual para ver o respeito e a empatia serem atirados pela janela, quando não o próprio indivíduo.
Ainda é comum a homofobia se manifestar na repulsa ao amor entre seres humanos, defendendo que os gestos de carinho e afeto sejam apenas direitos dos sexos opostos, como se fôssemos meras entidades biológicas.
O Superior Tribunal Federal considera a homofobia crime, passo importante no nosso processo civilizatório, mas ainda tímido quando o assunto é garantia de direitos. É preciso medidas que impliquem em ações concretas do Estado para combater o preconceito institucional.
É preciso debater direitos das mulheres, dos negros, dos homossexuais e transexuais, das pessoas especiais e o respeito às diferenças nas escolas e ambientes de aprendizado, órgãos e empresas públicas, para que tenhamos futuras gerações que reconheçam e respeitem a existência do outro.
*O autor é sociólogo