Mais da metade do gás extraído no Brasil é reinjetado no solo
A maior parte do insumo não é aproveitada comercialmente e volta aos reservatórios para aumentar a produção de petróleo.

Adrissia Pinheiro
Publicado em: 02/06/2025 às 14:14 | Atualizado em: 02/06/2025 às 14:14
Enquanto o Brasil aumenta sua produção de gás natural, mais da metade desse volume volta ao subsolo. Em abril, 90,6 milhões de metros cúbicos por dia foram reinjetados, o que representa 54% de tudo o que foi extraído no mês, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A prática, comum desde a expansão do pré-sal, visa manter a pressão nos poços e garantir mais petróleo. Isso acontece porque, no Brasil, 85% do gás natural é associado, ou seja, vem junto com o petróleo. Para extrair o óleo, é preciso liberar o gás.
Com valor de mercado mais alto, o petróleo se torna prioridade. Assim, em vez de investir em estrutura para distribuir o gás, as operadoras devolvem o produto ao reservatório. Essa lógica econômica empurra o Brasil para um cenário em que a maior parte do gás não chega ao consumidor final.
Outros países com perfil similar adotam reinjeção, mas em patamares bem menores — entre 20% e 35%, abaixo do índice brasileiro.
Apesar da autossuficiência na extração, o Brasil se prepara para importar até 30 milhões de metros cúbicos por dia da Argentina até 2030.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, considera a meta viável e disse: “O potencial de fornecimento de Vaca Muerta é infinito. E temos uma indústria pujante do lado brasileiro, sedenta por gás natural a preço competitivo”.
Segundo ele, 17 empresas já têm aval da ANP para importar o insumo. “Os primeiros volumes já cruzaram”, declarou, durante o seminário “Desafios e Soluções para Integração Gasífera Regional”.
A fase dois do gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre é uma das obras-chave. O projeto de 593 km deve ligar a Fronteira Oeste à capital gaúcha, com investimentos estimados em R$ 6,83 bilhões e capacidade para transportar 15 milhões de metros cúbicos por dia.
Hoje, a infraestrutura brasileira ainda é tímida. Com pouco mais de 58 mil km de gasodutos, o país tem cerca de um terço da rede da Argentina, que soma 162.500 km.
A diferença se explica, em parte, pelo modelo de exploração. O gás argentino vem de áreas em terra firme. Já o brasileiro, majoritariamente do pré-sal, exige investimentos altos em dutos submarinos e sistemas de escoamento até a costa.
Essa limitação, somada à prioridade no petróleo e à baixa rede de gasodutos, trava o desenvolvimento do mercado de gás natural no país.
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Foto: Rogério Reis/Agência Petrobrás