Kaçauerés e paikisés

Os bois adotam nomes indígenas para designar o grupo de trabalhadores que faz o traslado das alegorias no festival de Parintins.

kaçauerés e Paikisés

Dassuem Nogueira, especial para o BNC Amazonas

Publicado em: 30/06/2023 às 12:33 | Atualizado em: 30/06/2023 às 12:33

Os bois adotam nomes indígenas para designar o grupo de trabalhadores que faz o traslado das alegorias dos galpões para a área de dispersão da arena.

No Garantido, são chamados de kaçauerés, que significa formiga em nheengatu.

No Caprichoso, de paikisés, termo em munduruku que significa formiga de fogo.

As formigas carregam folhas muito maiores e mais pesadas do que o seu peso. Os nomes aludem à imagem desses grupos de homens que carregam os grandes blocos que formam as alegorias na arena.

Os trabalhadores se inscrevem para a função com antecedência de cerca de um mês do festival. A seleção dá preferência aos que já trabalharam nela.

A criação dessa categoria de trabalho é resultado da consolidação do processo de profissionalização do espetáculo, que ocorreu na segunda metade da década de 1990.

Assim como a introdução de equipamentos de proteção individual, como capacetes, luvas e botas. Além de proteção solar e água durante o caminho, dado o forte calor em que trabalham.

O trabalho na arena é ainda maior. O peso dos blocos soma-se aos dos brincantes que compõem as cenas.

Além disso, exige que eles dominem os seus desenhos e a ordem de apresentação na arena. Eles não são item, mas a sua expertise é fundamental para o item 21, organização do conjunto folclórico.

Por isso, na concentração do bumbódromo, seu trabalho ainda consiste em organizar os blocos para serem impecáveis na sua montagem para entrar na arena.

Enquanto todos os demais trabalhadores descansam após o festival, kaçauerés e paikisés ainda trabalham retornando com os blocos para seus galpões.

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Crise vermelha

Neste ano, dada a crise no boi vermelho, os kaçauerés estavam carregando os blocos de alegorias às vésperas do festival. É um trabalho que, normalmente, ocorre cerca de quinze a dez dias antes da disputa. Pois, na semana do festival, a cidade vai gradativamente dobrando a sua população com a chegada dos visitantes, o que aumenta também o trânsito de veículos nas ruas.

O trajeto dos kaçauerés é maior do que o dos paikisés. O galpão do Caprichoso está localizado a cerca de 500 metros do bumbódromo.

Já a Cidade Garantido, está a cerca de dois quilômetros. Ontem, véspera da primeira noite do espetáculo, que vai ser aberto pelo boi vermelho, o trabalho estava tenso.

Para o kaçaueré Ricardo, “O clima é de total desespero. A gente tá levando ralho, tem muita alegoria ainda para levar”.

Porém, ele não perdeu o bom humor: “Para cima!”, dizia enquanto empurrava alegoria rumo ao bumbódromo.

Foto: Dassuem Nogueira, especial para o BNC Amazonas, e Arleison Cruz/Secom