Quando o Garantido sai às ruas de Parintins
Dos quatro dias que o bumbá sai às ruas da cidade, um é no dia de São João Batista.

Ednilson Maciel, Por Dassuem Nogueira*
Publicado em: 25/06/2024 às 17:16 | Atualizado em: 25/06/2024 às 17:19
O boi-bumbá Garantido sai às ruas em quatro dias no ano.
O calendário encarnado abre com a Alvorada na virada do dia 30 de abril para o 1º de maio.
A data é uma alusão a um dos dias em que se celebra São José Operário. O padroeiro dos trabalhadores dá nome ao bairro onde está localizada a baixa da Xanda, reduto do boi em Parintins.
Por ser véspera de um feriado nacional, o Dia do Trabalhador, a proposta da alvorada do Garantido é amanhecer o dia festejando em frente à catedral de Nossa Senhora do Carmo.
Em sequência, o boi homenageia dois santos juninos: Santo Antônio e São João.
Para Santo Antônio, o Garantido junta duas comemorações em uma. Ele sai às ruas na noite do dia 12, Dia dos Namorados, quando distribui rosas às mulheres.
E nas ruas, ao romper da meia-noite, festeja o Santo Antônio, dia 13. A festa termina na madrugada.
Santo Antônio era o de devoção de dona Antônia, esposa do mestre Lindolfo.
São João Batista era o santo de devoção do mestre, para quem ele prometeu o Garantido.
Nos festejos de junho, o boi vai parando de fogueira em fogueira na frente das casas para dançar e dar atenção às famílias de sua comunidade, especialmente, crianças, idosos e ilustres brincantes.
A temporada se encerra com a festa da matança do boi, em 17 de julho.
O boi sai pelas ruas à noite e, quando finda na madrugada, a família Monteverde inicia uma comilança com pratos de carne de boi para a vizinhança e convidados.
A carne servida representa a carne do boi Garantido.
O boi de pano morre no auto, simbolicamente, para reviver na festa da Alvorada do ano seguinte.
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As tradições dos Monteverdes
Antes da saída do dia 12, para o Santo Antônio, a família Monteverde junto às rezadeiras da baixa faz uma ladainha com passagens em latim e uma festa para as crianças da comunidade brincarem de boi.
O rito da ladainha realizada no dia de São João faz parte da promessa feita por mestre Lindolfo. Nessa ocasião, não há festa para as crianças.
Já na festa da morte, antes de sair às ruas, a família Monteverde encena o auto do boi na versão versada de mestre Lindolfo.
O verso que abre o auto é assim:
“Vaqueiro, vaqueiro de fama real, neste campo de deserto, onde a desgraça me teme, chamo e ninguém me responde, olho e não vejo ninguém. Oh! vaqueiro, vaqueiro de fama real”
Na encenação, membros de todas as idades da família e da comunidade participam da encenação.
Todas as saídas de rua do Garantido partem do antigo curral na baixa da Xanda, onde um dia foi a casa de seu fundador.
Percorre a via que hoje se chama avenida Lindolfo Monteverde. Em seguida, segue pela avenida Armando Prado e desagua na praça da Catedral, na avenida Amazonas.
Em noite de Alvorada, o percurso é diferente. Ao invés de passar pela Armando Prado, o cortejo passa pela avenida Amazonas para chegar à catedral.
Todo o calendário e a ritualística do boi de rua do Garantido foi preservada e financiada pela família do fundador, os Monteverdes.
Ao longo dos anos, eles contaram com financiamento de muitos padrinhos. Algumas vezes contaram com apoio das diretorias do boi Garantido.
Recentemente, aproveitando que o dia 1º de maio é um feriado nacional, a Alvorada do Garantido tem sido incorporada como um atrativo turístico de Parintins. Muitos brincantes de outras cidades passam o feriado na ilha, especialmente os da capital amazonense.
A saída de São João, no dia 24 de junho, por estar próxima do festival, que inicia no último final de semana do mês, costuma concentrar um misto de visitantes e da comunidade encarnada.
As festas de Santo Antônio, no dia 13 de junho, e da morte do boi, no dia 17 de julho, são festejos feitos pela e para a comunidade Garantido de Parintins.
Foto: Tom Ribeiro/Assessoria de Comunicação do Boi Garantido