Presidente Lula, não siga o exemplo de Bolsonaro!

Autor escreve em primeira pessoa para o atual presidente da República pedindo que ele não abandone os professores federais, que o apoiaram em 2022

Presidente Lula, não siga o exemplo de Bolsonaro!

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*

Publicado em: 15/06/2024 às 05:00 | Atualizado em: 14/06/2024 às 22:01

Presidente Lula, não abandone seus aliados históricos como fez Bolsonaro. Uma característica marcante do ex-capitão é descartar seus aliados quando eles não têm mais utilidade, prática esta que reflete tanto seu caráter quanto sua estratégia política. Com efeito, isto não pode ser uma prática adotada por V. Ex.ª 

Escrevo isto para dizer que é fundamental que V. Ex.ª não ignore os mais de 60 dias de greve dos(as) professores(as) e técnicos(as) administrativos(as) das universidades e institutos federais e continue com as negociações abertas. A causa é justa, luta-se por melhores condições de trabalho, carreira e salário. 

De maneira geral, as universidades federais sempre foram suas aliadas, bem como de todo o campo progressista. Há décadas estão na luta, ajudando a eleger parlamentares deste campo e, também, V. Ex.ª. Luta-se, tanto na teoria quanto na prática, contra a extrema direita no Brasil há muito tempo. As universidades são, portanto, suas aliadas históricas.

Desta forma, não é compreensível que os(as) professores(as), técnicos(as) administrativos(as) recebam tratamento tão pragmático e burocrático de sua parte, bem como de sua equipe de governo. Penso que não é justo tratar aliados históricos desta forma.

O que é mais importante?

Presidente Lula, V. Ex.ª sempre disse que educação não é gasto, mas investimento. Investir em educação é investir no desenvolvimento do país, o que passa diretamente pelo fortalecimento das universidades e institutos federais. Apesar dos esforços e discursos, a verba ainda não chegou de fato nas unidades.

Embora o seu governo não tenha sido o responsável pela destruição do orçamento das universidades e institutos federais, elegemos o senhor com a esperança de que, junto conosco, num processo amplo e democrático de debate e participação, possa haver a recomposição deste orçamento. Contudo, na prática, até o momento, não é o que ocorre.

Por outro lado, seu governo acena com benefícios salariais para setores reacionários do funcionalismo público federal, historicamente, inimigos seus e de seu partido, o Partido dos Trabalhadores (PT). Isto, certamente, está ligado à organização das categorias, ao prestígio, ao peso político e ao poder de barganha.

No entanto, o orçamento da União é um só, e vem sendo dilapidado por diversos setores dentro desta amplíssima e oligofrênica coalização. É necessário que seu governo saiba dosar os atendimentos. Não é aceitável conceder reajustes para alguns, enquanto outros sofrem arrocho. Afinal, o que é mais importante no desenvolvimento de um país: repressão ou educação, policiais ou professores?

E sua história?

Um presidente forjado na luta sindical, na luta dos trabalhadores, assim como grande parte de sua equipe de governo, não pode jamais ignorar o pleito legítimo de seus aliados, a não ser que não mais os considere seus aliados. Isto seria trair a sua própria história.

Neste sentido, não atender ao pleito dos trabalhadores da educação superior, a principal barreira de contenção teórica e prática no enfrentamento ao bolsonarismo em nosso país, não me parece uma boa estratégia. Não se ensina o padre a “rezar a missa”, mas estes trabalhadores, juntamente com outros milhões de brasileiros, são a verdadeira base aliada de seu governo, presidente Lula.

Portanto, propor aumento zero e/ou fracionar ao máximo os reajustes para os(as) professores(as) e técnicos(as) administrativos(as) da educação superior brasileira não condiz com a sua história sindical. Fechar as mesas de negociações ou permitir negociações com sindicatos pelegos que não representam a categoria também não está à sua altura.

Por isto, reitero: “Presidente Lula, não siga o exemplo de Bolsonaro”. Ele abandona seus aliados na primeira oportunidade e não tem compromisso nenhum com a educação deste país. Mas ele é ele, V. Ex.ª. é muito maior.

*O autor é sociólogo

Arte: Gilmal