Por que a oração não foi ouvida?

Em seu artigo de hoje, Aldenor Ferreira mostra que Deus sempre se insurgiu contra os abominadores e infiéis caluniadores, contra as injustiças e as desordens

Por que a oração não foi ouvida? Aldenor Ferreira artigo

Neuton Correa, Aldenor Ferreira*

Publicado em: 12/11/2022 às 05:57 | Atualizado em: 08/10/2024 às 16:43

A eleição de 2022 acabou. Lula foi eleito com 50,90% dos votos válidos. Do outro lado, tem-se dois principais derrotados: Jair Bolsonaro e os cristãos evangélicos e católicos que fizeram jejum e oração em seu favor.

Aprouve a Deus, na sua soberania, não atender às súplicas desses cristãos, fato que, naturalmente, suscita vários questionamentos do porquê dessa situação. Há várias explicações possíveis para isso. Porém, a mais importante perpassa o fato de que a maioria desses cristãos são hipócritas, mentirosos, caluniosos, corruptos, profanos e, contra isso, Deus sempre se insurgiu.

Respostas na bíblia

A bíblia cristã, do começo ao fim, relata vários episódios em que Deus se insurgiu contra os abominadores e infiéis caluniadores, contra as injustiças e as desordens. O Novo Testamento, que relata de forma mais direta a vida de Deus, agora encarnado e manifesto na pessoa de Jesus Cristo, é um compêndio de textos que se insurgem contra a hipocrisia, a miséria física e espiritual, o ódio, as insubordinações e, fundamentalmente, contra os falsos pastores e líderes.

A igreja cristã brasileira, parte dela pelo menos, se comporta de forma oposta ao que está escrito no Novo Testamento, assumindo uma postura que é, certamente, a antítese do evangelho de Cristo. Nesse sentido, não é muito difícil entender o porquê de não ter tido resposta favorável às orações e aos jejuns relacionados ao pleito eleitoral de 2022.

Pedido injusto

Em primeiro lugar, a oração não foi atendida porque não se tratava de um pedido justo. Em segundo lugar, aqueles que faziam tal pedido, em sua maioria, não tinham e não têm relacionamento algum com Deus. Estão mortos em seus próprios delitos e pecados, mas só enxergam o pecado de outrem. Eles são, na verdade, acusadores impiedosos e perversos.

Foi contra esse tipo de comportamento que o próprio Cristo se insurgiu, conforme registrado em Mateus 15:8-9: “[e]ste povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão, me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens”.

Deus opera Justiça

Quando o povo é desobediente e se afasta da lei de Deus, Ele mesmo opera a justiça. Isso aconteceu na igreja cristã brasileira, claramente. Conforme escrevi no texto da semana passada, parte grande de evangélicos e católicos transformaram a igreja, a casa de Deus, em comitê de campanha de Bolsonaro. Isso foi um gesto claro de profanação do culto e do templo. Afinal, o templo, quando a congregação está reunida, se torna um lugar sagrado.

Todas as vezes que o povo se desviou e profanou o culto e o templo, tanto na história do povo de Israel no Antigo Testamento quanto na história da igreja cristã (o Israel de Deus da atualidade), Ele não se agradou e virou as costas para o povo. Há diversos livros que registram esses acontecimentos. Em Jeremias 14:12, temos: “ainda que jejuem, não ouvirei o seu clamor; mesmo que ofereçam holocaustos e ofertas de cereais, não os aceitarei nem terei neles qualquer prazer”.

JEm Provérbios 1:28, lê-se: “então, suplicarão minha atenção, entretanto, não vos responderei; buscar-me-ão, porém, não me hão de encontrar”. Em Isaías 1:15 temos: “quando estenderdes as mãos, eis que esconderei os olhos de vós; e, ainda que multipliqueis as vossas orações, não mais as ouvirei, porquanto as vossas mãos estão condenadas, cheias de sangue inocente!”.

Haveria, ainda, outros textos que eu poderia citar aqui, todos mostrando que, a partir do comportamento profano do povo, de sua iniquidade, o próprio Deus sempre operou a justiça. Nesse sentido, pseudoevangélicos e católicos poderiam passar o ano de 2022 inteiro orando, jejuando e se martirizando, mas suas ações não teriam efeito prático nenhum. Eles não seriam, como já não foram, atendidos, afinal, parte deles está com as mãos sujas de sangue.

Pandemia

Não podemos esquecer que muitos líderes evangélicos e católicos de expressão nacional foram contra as medidas sanitárias de distanciamento social, de uso máscaras e contra o lockdown durante a pandemia da Covid-19, contribuindo, dessa forma, para a contaminação e, consequentemente, para o óbito de centenas ou mesmo milhares de pessoas.

Portanto, evangélicos e católicos precisam, antes de tudo, se arrepender e fazer o que o apóstolo Tiago ensina em sua carta: “confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz”.

Atenção!

O apóstolo menciona “a oração de um justo é poderosa e eficaz”. É essa oração que Deus ouve e com a qual se compadece e atende. Ele não responderá à oração de fariseus hipócritas, defensores de toda sorte de preconceitos, maldades, mentiras, fraudes e contendas.

Todavia, o lado esperançoso disso tudo é que pelo menos 30% dos evangélicos e cerca de 60% dos católicos não votaram no projeto nazifascista da extrema direita nacional. Dessa forma, constituíram-se verdadeira trincheira de resistência dentro e fora dos templos do nosso país, de igual forma orando e clamando em favor de Lula. Nesse sentido, quem pode garantir que não foi a oração desses grupos que Deus ouviu?


*Sociólogo

Arte: Gilmal