Tempo fecha na ALE-AM e deputado chama colega ‘pra porrada’
No centro da sessão baixo nível, Daniel Almeida, Alessandra Campelo e Felipe Souza

Mariane Veiga, da Redação do BNC Amazonas
Publicado em: 10/09/2024 às 20:47 | Atualizado em: 11/09/2024 às 07:17
O deputado Daniel Almeida (Avante) fazia na Assembleia Legislativa (ALE-AM), neste dia 10 de setembro, exposição positiva dos feitos do irmão, o prefeito de Manaus, na área de saúde.
Quando ele inseriu um crime de tentativa de homicídio na área da UPA José Rodrigues, zona norte, na noite do dia anterior, o clima no plenário começou a esquentar.
Daniel Almeida, dessa forma, se valeu dessa ocorrência criminal para criticar a gestão do estado na saúde e na segurança pública. Uma maneira de exaltar a administração do irmão prefeito como o inverso desse cenário.
De início, foi aparteado pelo deputado Wilker Barreto (Mobiliza), que como candidato a prefeito da capital foi logo afirmando que a saúde municipal não está no nível que Daniel estava dizendo.
“A saúde do município não é a melhor do país. Nós temos inúmeras unidades municipais desabastecidas. Manaus não é a melhor saúde municipal do país. Quem diz isso é o povo, são as ruas. Não é a propaganda de uma Manaus que só existe na televisão, que é muito diferente da Manaus das ruas”, disse Barreto.
Em defesa do governo Wilson Lima (União Brasil), o líder na ALE-AM, deputado Felipe Souza (PRD), minimizou em aparte o ocorrido na UPA jogando para disputa de facções criminosas, “um problema nacional”, disse.
E, ato contínuo, disparou contra o prefeito:
“O triste aqui, e que vossa excelência [se dirigindo a Daniel] não fala, é que em 2020 foi seu irmão que foi acusado, e saiu na revista Veja e no site Metrópoles, de ter ligações com o comando vermelho para as eleições de 2020”.
Souza acrescentou:
“Vossa excelência deveria explicar essa situação”.
Ele ainda citou as eleições de 2020, quando Wilson Lima ajudou Almeida a se eleger prefeito, para criticar fala de Daniel sobre coerência na política.
“Em 2022, teu irmão apenas pagou a conta”.
Souza expôs ainda outros gestos do governador para o prefeito. Por exemplo, R$ 900 milhões repassados pelo governo que o prefeito não presta conta; o parque Gigante da Floresta, que Almeida sequer citou que o recurso é do governo; o viaduto Rei Pelé, igualmente com recurso do estado.
E, ao final, sugeriu a criação de uma CPI para investigar o destino desses R$ 900 milhões.
Daniel, em resposta, disse reconhecer que as maiores realizações do governo de Almeida foram com recursos do Governo do Estado.
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‘Cale-se, cale-se, cale-se’
Contudo, como foi retrucado enquanto falava, Daniel mandou que Souza se calasse, repetindo várias vezes:
“Cale-se!”.
Em reação, Souza desafiou:
“Então venha calar!”.
Diante da troca de ofensas, a presidente da sessão, deputada Alessandra Campelo (Podemos), tentou conter os ânimos, sem sucesso.
Daniel reclamou que a colega não estava mantendo a ordem e ainda cortava seu microfone. Alessandra então disse que ele deveria perceber o quanto isso é ruim, mais ainda para as mulheres, que têm a voz cortada o tempo todo.
Foi então que tudo piorou. Daniel disse que Alessandra estava se vitimizando, e ela reagiu com ênfase:
“Me respeite! Eu não tenho nada a ver com seu nervosismo por conta dos problemas da prefeitura. Me respeite, aqui o negócio é diferente”.
Como o deputado não se calava, Alessandra mandou cortar o microfone. E disse que devolveria o direito de Daniel com uma condição:
“O tempo vai voltar ao senhor, mas para falar com respeito, porque se não falar com respeito, eu vou cortar de novo. O senhor tem que aprender a respeitar uma mulher parlamentar. Aprenda a respeitar uma mulher parlamentar”.
Resignado, mas nem tanto, Daniel se submeteu à autoridade da presidente da sessão. E continuou seu discurso, criticando a segurança pública do estado.
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Denúncia de Alessandra
Paz aparente
Embora o deputado continuasse a fazer críticas ao governo, o clima no plenário era de aparente calmaria.
Mas, quando Daniel afirmou que não dava para defender o governador, Alessandra pediu um aparte. “O senhor me concede um aparte?”.
Daniel nem pestanejou:
“Não concedo não pra senhora. Já falou muito. Já falou demais. Falou até o que não devia”.
Mesmo presidindo a sessão, Alessandra teve de se conformar com o não. A concessão do aparte é prerrogativa de quem ocupa a tribuna.
“É bem a sua cara mesmo. Não tem coragem de enfrentar, não vai conceder aparte”, disse ela, ao fundo.
Ele ainda fez questão de citar vários deputados a quem oferecia voz.
“A senhora [apontando o dedo para Alessandra] não. A senhora é muito poderosa”.
Ao subir à tribuna para sua fala, Alessandra denunciou que Daniel chamou o colega Souza “pra porrada”, conforme suas palavras.
O irmão do prefeito teria feito isso quando desceu da tribuna e foi cumprimentar colegas no plenário, conforme a deputada.
Fotomontagem BNC Amazonas/imagens da TV ALE