Tarifaço de Trump vai onerar exportações de motocicletas da ZFM

No entanto, esse impacto de 10% sobre as exportações brasileiras para os EUA será pouco significativo porque as vendas de motos aos americanos são relativamente baixas

ZFM quebra recorde de produção de motocicletas de 12 anos

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 03/04/2025 às 20:21 | Atualizado em: 03/04/2025 às 20:34

O tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, de 10% sobre todas as exportações brasileiras, terá algum impacto na Zona Franca de Manaus (ZFM).

Embora as taxas aplicadas ao Brasil sejam as mais baixas, em torno de 10%, nesse primeiro momento, o impacto será na oneração da exportação de motocicletas, principal produto de exportação da ZFM aos EUA.

“Mas, em relação à produção do polo industrial de Manaus, precisamos aguardar a reação do Brasil em relação às medidas de reciprocidade, pois temos participação de insumos provenientes dos EUA”, explica o superintendente da Zona Franca de Manaus (Suframa), Bosco Saraiva.

De acordo com dados da Suframa, a indústria do Amazonas exporta para os EUA produtos como motocicletas e peças, rodas dentadas, naftas, exceto para petroquímica, distribuidores automáticos de papéis-moeda e outros equipamentos bancários. Assim como madeiras tropicais serradas (legalmente extraídas).

No entanto, segundo o superintendente, isso é pouco significativo para o faturamento global do polo industrial de Manaus (US$ 37 bilhões em 2024), visto que as exportações são relativamente em menor volume.

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Por outro lado, no ano passado, o Amazonas importou R$ 13,48 bilhões, sendo os principais países os seguintes:

•⁠ ⁠China – R$ 6,41 bilhões;
•⁠ ⁠Estados Unidos – R$ 1,46 bilhão;
•⁠ ⁠Vietnã – R$ 1,26 bilhão;
•⁠ ⁠Rússia – R$ 1,19 bilhão;
•⁠ ⁠Coreia do Sul – R$ 973,8 milhões;
•⁠ ⁠Taiwan (Formosa) – R$ 898,9 milhões;
•⁠ ⁠Japão – R$ 551,6 milhões;
•⁠ ⁠Índia – R$ 376,6 milhões;
•⁠ ⁠Tailândia – R$ 372,56 milhões

Pouco impacto

Por sua vez, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, diz que as taxações protecionistas de Donald Trump, por enquanto, não afetam a Zona Franca. Isso porque não está na relação de aumento de tarifas de exportação para os Estados Unidos nenhum produto fabricado no polo industrial de Manaus.

Por outro lado, o que a Zona Franca de Manaus exportou, em 2024, para os EUA, representa apenas 6,13% das exportações, equivalente a US$ 56,5 milhões de dólares, o que é pouco para quem tem um faturamento acima de US$ 37 bilhões de dólares.

“Porém, a economia e a política são bastante dinâmicas, por isso, estaremos alerta para qualquer novidade que afete o nosso desempenho”, ponderou Antônio Silva.

Setor eletroeletrônico

Já na avaliação do presidente-executivo da Eletros, Jorge do Nascimento Jr, o tarifaço de Donald Trump para o setor eletroeletrônico não faz diferença porque não o polo não vende nenhum produto para os Estados Unidos.

“Mas, para o Brasil, pensando em todos os produtos, há sim riscos porque nossos produtos entrarão 10% mais caros e, se outro país vender sem esses 10%, então perderemos competitividade”, ressalta o executivo da Eletros.

Ainda, segundo Jorge Nascimento, a cadeia de insumos é o ponto de atenção. Pois, com esse aumento de tarifas a vários países, não se sabe como vai se comportar a oferta e preços de alguns componentes como chips, memórias, compressores, baterias, aço, plástico, resinas plásticas e outros materiais que a ZFM utiliza. Assim como o restante do país.

Oportunidades com o tarifaço de Trump:

•⁠ ⁠Ganho de competitividade relativa em relação a China e ao Vietnã, que tem tarifas de até 40%;
•⁠ ⁠Possibilidade de atrair investimentos globais, deslocando fábricas da Ásia;
•⁠ ⁠Espaço para acordos bilaterais com os Estados Unidos no setor industrial.

Riscos:

•⁠ ⁠Custo adicional de 10%, que pode inviabilizar exportações mais sensíveis;
•⁠ ⁠Concorrência com México e América Central, que tem acordos preferenciais com os Estados Unidos;
•⁠ ⁠Gargalos logísticos e estruturais da Zona Franca de Manaus demandam ação rápida.

Estrutura logística

Em resumo, o presidente da Eletros reafirma que há riscos e oportunidades nessa decisão de Trump, mas o gargalo que sempre se esbarra é a falta de estrutura logística para a indústria do estado do Amazonas ser competitiva e ágil para alcançar o mercado americano.

“Incentivos fiscais temos. Parque fabril moderno e atrativo temos. Mão de obra temos. Localização privilegiada para atender as Américas do Sul, Central e do Norte temos. Mas, nos faltam terrenos em Manaus para receber mais indústrias, infraestrutura logística e a segurança energética e lógica, já que constantemente em Manaus falta energia, há apagões de internet, os rios secam demais e não temos opções de logística de transporte. Isso tudo faz o investidor avaliar e reavaliar a ZFM”, destacou Jorge Nascimento Jr.

Foto: José Paulo Lacerda/CNI/Agência Brasil